Thursday, August 7, 2008

I don't know


Mal ele começou a falar e eu já me identifiquei. Suas primeiras palavras foram I don’t know. Só alguém muito sábio poderia responder aquela pergunta cabeluda com essas simples 3 palavras. Gostei de ver aquele monstro do cinema sorrindo e confessando que não sabe tudo.
Minha identificação não foi com a sabedoria dele, estou longe de ser sábia. Foi uma sensação confortante que ele passou. É normal não saber tudo. É normal ser você mesmo. É normal falar I don’t know. E eu falo I don’t know para muita coisa. E às vezes me dói dizer essas palavras. Queria saber mais. Mas depois que o David Lynch falou que não sabe, conti a minha ansiedade e consegui me dimensionar no espaço e tempo. Não saber é chegar mais perto da nossa essência, que é tão simples que passa despercebida pelos nossos olhinhos caçadores de complicação.
Ele falou outra coisa que gostei: “eu odeio trabalhar, apenas gosto de transformar minhas idéias em realidade”. Que eufemismo maravilhoso para trabalho, não? Nas nossas idéias estão embutidos nossos desejos e pricipalmente nossos sonhos. Que maravilha seria trabalhar com a realização dos sonhos. Por mais difícil que pareça isso é possível, afinal ele consegue. Tudo bem que estamos falando de David Lynch, ele até faz parecer fácil, mas não é. Pelo que consegui extrair da palestra tudo depende do nosso interior, da nossa relação eu-mundo, da tranquilidade que traz o auto-conhecimento. Quando sabemos quais são nossos limites, nada mais pode nos limitar.
Isso pode parecer texto de auto-ajuda, interprete como quiser. Não ligo. Só tive vontade de me expressar. Lynch chamaria este desejo de expressar de idéia. E para ele as idéias estão no ar como bolhas de sabão, mas elas são frágeis, podem estourar a qualquer momento. Você precisa aprender a pegá-las, fisgar o peixe grande. Não deixe sua idéia passar, aproveite o momento que ela surge, seja fiel a ela e faça acontecer.
Aí que entra a intuição. Para o mestre (já virou mestre, meu guru), existe a inteligência e a emoção e no meio e acima delas existe a intuição, que é o equilíbrio. É o inexplicável, é a nossa voz interior falando. A voz existe, mas quase nunca ouvimos e por isso desistimos de nossos desejos, abandonamos nossas idéias, sofremos, deprimimos, estressamos.
Como ouvir essa voz? I fucking don’t know. Temos que tentar, temos que nos preencher. Preencher a alma com a beleza. Ontem tomei um banho de beleza na sua palestra. A cada 5 minutos ele falava no seu inglês gostoso de escutar: “It’s beautiful”, podia-se ouvir a paixão na sua voz. Certamente a voz interior é apaixonada.
Às vezes me falha um pouco a memória para lembrar de tudo que foi falado, queria ter tudo gravado para ouvir toda vez que me desanimasse. De qualquer jeito, ele conseguiu me tocar, o resto vou lembrar, tenho certeza que essas frágeis bolhas de sabão vão aparecer na minha frente e não vou deixá-las estourar.