Tuesday, October 27, 2009

Portrait in black and white

Ladys and Gentlemen,

Chet Baker in Portrait in black and white.

(alguém sabe colocar mp3 pra tocar no blogspot?)

Na falta de mp3, vamos de you tube.

Parte 1 (sim, a música é enooooorme)

http://www.youtube.com/watch?v=GQAWDXbBZXo

Parte 2

http://www.youtube.com/watch?v=z09wX8tLYUk&feature=related

Monday, October 26, 2009

A mais do meu itunes

Era uma manhã chuvosa, entrei naquele café para tomar meu último capuccino em Berlim. Ela já estava pela metade mas era linda, e muito familiar, lembrava algo do meu país. Perguntei à dona do café que música era aquela.

- Portrait in white and black. Beautiful isn’t it?

Mas é claro! Era isso mesmo. Retrato em branco e preto. Mas havia uma coisa diferente nela, algo que nunca senti quando a ouvia.

- And who’s playing?

- Chet Baker.

Fiquei até o final dela, que tem quase 16 minutos de duração. Hoje, vindo para o trabalho e ouvindo a música, cheguei à conclusão de que o único motivo pelo qual Tom Jobim e Chico compuseram essa canção foi para que Chet Baker a gravasse anos depois. Desculpe-me a todos que já a interpretaram e aos próprios Tom e Chico, mas Chet transcedeu não só a letra como também a melodia, aliás ele criou outras melodias dentro de Retrato em branco e preto. Ele consegue fazer uma reviravolta de sentimentos dentro das frases. Ouvindo, consigo sentir melancolia, desespero, solidão, revolta, e um tipo de força que cresce dentro de mim como se eu quisesse vomitar tudo que não me faz bem. É lindo demais. E todas as vezes que ouço fico tocada.

Fico pensando em como Chet Baker conseguiu despejar tudo isso dentro de uma canção. Para mim é uma das catarses mais bonitas que já ouvi.

Para quem quiser ouvir, é do disco Live in Tokyo de 1987.

Tuesday, October 20, 2009

Começando a entender o livro, visse?

Tudo começou com olhares, tímidos dela e descarados dele. Depois de dois mojitos ela arriscou um sorriso. Após muitos olhares e sorrisos ele se aproximou.  

- Oi, tudo bem?
- Sim, de onde é esse sotaque?
- Sou do Recife.
- Ah...
- Seu nome?
- Bárbara. O seu?
- Pedro.
 
Silêncio seguido de mais sorrisos e olhares. Na falta de usar a boca para falar usaram para se beijar. Bárbara sugeriu que saíssem de perto das caixas de som para tomar uma cerveja. 

- Mas o que você faz aqui?
- Faço mestrado em Direito Internacional.
 
Ele poderia ter falado sou coveiro no cemitério local, ou qualquer outra coisa, aquele sotaque de Pernambuco fazia com que ela prestasse atenção nas palavras separadamente sem dar importância para as frases. Que coisa boa de se ouvir. Não tinha nada a ver com francês, mas para ela, apaixonada pelo idioma, era como se fosse. 

Não se sabe como chegaram a uma papo cabeça despretensioso, não importa, era ótimo. Ele dizia: 

- Sou marxista.
- Ah, um romântico como eu. – e ela ria
 
Livros, relações internacionais e aquele sotaque. Tudo perfeito. 
O estabelecimento já estava fechando, então ele a convidou para terminar o papo no seu apartamento. Ela nem conseguiu fazer-se de difícil. Pra que dificultar um momento de perfeição? Eles são tão raros... 

Chegaram na casa dele e para a sua surpresa ele colocou Take the A Train para tocar. 

- Duke Ellington?
- É. Comprei um box de cds dele, para conhecer e por causa das capinhas, são bonitinhas, não são?
- Bonitinhas? Repete! Você não tá forçando não, né? É assim que você fala mesmo?
- Bonitinha - e ele dava gargalhadas.

A forma como ele pronunciava o "ti" a encantava: Náutico, Atlético, bonitinha, sítio...
 
Ouviram músicas e conversaram até amanhecer. Sobre tudo e sobre nada. Dormiram. Mas às vezes enquanto se reviravam na cama, acordavam se olhavam com cara boa e voltavam a dormir. Bárbara teve sonhos deliciosos. Era gostoso dormir encaixada naquele corpo, sentir aquele calorzinho, um cheiro diferente, carinho...

Devem ter descansado no máximo 3 horas. No dia seguinte, ou seja, no mesmo dia, acordaram. Ele, eu não sei, mas ela continuava sonhando.

E o sonho seguiu perfeito, porém os dois tinham compromisso no dia e tiveram que se separar. E se foram sem promessas. Foi um raro momento de perfeição que agora está imortalizado. Nenhum minuto a mais, nenhum a menos. Um presente do acaso.

Thursday, October 15, 2009

Cafés da manhã com Vicente

Seu Vicente tem insônia, ele dorme vendo jornal Nacional e acorda às 3 da manhã. Perambula pela casa com uns 3 livros e uma revista, lê um pouco de cada até que o sono volte. Lá pelas 6 ele acorda e vai à padaria, onde todos o conhecem pelo nome.

- Oi seu Vicente, Tudo bom com o senhor?

Vicente que acorda bem-humorado todos os dias, devolve o cumprimento com um largo sorriso, que faz qualquer mau-humor matinal parecer vergonhoso e caprichoso.

Chega em casa com o pão quentinho e come um pouco. Logo vai para seu escritório ler ou travar uma batalha com aquele monstro tecnológico chamado computador. Ouve passos na escada. Deve ser um dos seus filhos que acordou. Vicente senta à mesa novamente e põe-se a conversar com Filipe, que lê o jornal. Futebol e política são o assunto da pauta. Filipe sai para o trabalho.

Agora é a vez da filha mais velha, que sempre está apressada e desorientada, comendo em pé. O pai a tranquiliza e diz: calma, senta, toma café comigo.

- Você ainda não tomou?

- Não.

O sorriso desconcertante do pai vale um pequeno atraso no trabalho. A filha senta enquanto o pai na maior calma do mundo corta um pedaço de pão e passa manteiga. Conversam sobre outros temas. Falam em francês, ela conta algo do seu trabalho, mas vê que não pode demorar mais. Dá um beijo e um abraço no Monsieur Vincent e sai correndo.

A última é a Luciana, essa foi esperta, escolheu uma profissão que lhe dá mais tempo. Conversada como o pai, passa um bom tempo com ele falando desde como reduzir o valor da conta de telefone a suas próximas viagens e bolsas de estudo. Ela sai e Vicente acaba de tomar seu quarto café da manhã.

Já são quase 10 da manhã. Depois de cumprir todos os afazeres que ele escreve em uma listinha, Vicente espera os filhos chegarem um por um para mais 3 jantares. Depois diz que não sabe porque não emagrece.

Thursday, October 8, 2009

Procuro emprego

Canto, danço e represento.

Friday, October 2, 2009

Espere

Que mania de ser apressado que a gente tem em entender as coisas, procurar respostas imediatas. Ontem me aconteceu algo. Uma coincidência que parecia o encaixe de uma peça, feito pela mão de um ser superior brincando com o quebra-cabeças de sentidos que é o mundo.

Estava lendo A Imortalidade do Milan Kundera, que ganhei da minha cunhadinha. Demorei pra pegar no tranco, confesso, mas o livro foi ficando interessante. Até que em um capítulo, uma personagem, Agnes, fala de um poema de Goethe que seu pai sempre lia para ela. O poema estava traduzido para o português, claro, mas na página seguinte estava em alemão. Eu que não falo nada de alemão (mentira, sei uns palavrões), fui ler de curiosa que sou. Foi ver a primeira frase que caí dentro de um déjà vu. Fechei os olhos e ia adivinhando frase por frase.

O poema, nada mais era do que a música que eu mais gostava de cantar quando fazia aulas de canto lírico, há muito tempo. Gostava da música porque achava que ela deixava a minha voz potente. Na época nunca soube o significado daquelas palavras, com exceção de uma: warte, que quer dizer espere.

É um poema sobre a morte, sobre poder descansar. Sei que foi tudo uma grande coincidência, mas gosto de procurar sentidos ocultos nestes meros acasos. Ando cansada, infeliz, e querendo que tudo se resolva logo, hoje, agora. Mas as coisas se resolvem e passam a fazer sentido com o tempo, quando a gente menos espera – reza o clichê mor.

É verdade, eu nem procurava a tradução dessa música e um dia, sem mais nem menos, ela me apareceu dizendo assim: warte.