Thursday, April 29, 2010

Abaixo a ditatura do final triste

Não sei quando foi secretamente institucionalizado que para um filme ser bom o final tinha que ser triste. Obviamente estou exagerando na frase acima. Mas há tempos que os filmes que fazem chorar ou que mostram a “verdade” sobre a natureza humana são os que mais ganham prêmios em todo mundo.
Famílias desfuncionais, holocausto, guerra, ditadura, traições e doenças terminais são os preferidos de todo e qualquer festival.

Gosto muito destes tipos de filme, antes que me acusem de Poliana. Se a história é bem contada ou tem poesia, para mim está ótimo. Mas nesta busca pelo realismo, ou pela “a vida como ela é” perdeu-se algo muito importante: a vida também pode ser bonita, as pessoas podem ser boas e os finais podem ser felizes.

Um parêntesis: quando falo de final feliz, não me refiro àquela fórmula hollywoodiana de romances e comédias românticas em que o fim é advinhando no início, quiçá no cartaz, tamanha a previsibilidade.Fecha parêntesis.

Claro que o final mor - a morte - é triste. Mas dentro da vida de uma pessoa existem muitos momentos alegres. Como é bom ver um momento desses na tela dentro de uma hora e meia ou mais de duração. Uma história que acaba enquanto os personagens estão bem. Pode até ser que depois dos créditos um personagem traia o outro, ou alguém contraia uma doença fatal. Não quero saber. Quero ir para casa com aquele momento emoldurado em uma hora e meia ou mais de duração.

Escrevi esse texto anterior inspirada pelo último filme que vi: O segredo dos seus olhos, do argentino Juan José Campanella.

Tuesday, April 13, 2010

O vazio existencial entre o almoço e o lanche

Entre 4h e 4h30 ela sempre tem ataque de ansiedade. Bate o pé sentada na cadeira. Olha para o relógio. Vê se tem alguém comendo biscoito ao seu lado. Quer ficar em pé, ir até a cozinha tomar um chá, mas não faz nada disso. Espera 4h31 chegar.

Wednesday, April 7, 2010

Variação das folhas de outono

Minha cabeça transbordava melancolia, estava chegando em casa quando começou a tocar Black Trombone do Serge Gainsbourg no rádio. As notas tristes do trombone sonavam com o meu estado. Escutei prestando atenção em cada acorde e palavra. Black trombone, monotone, c’est l’automne de ma vie. É o outono da minha vida... Não sei o que Gainsbourg quis dizer com isso. Mas me senti dentro do outono da minha vida. Aquela estação fria e desfolhada. Monótona. Monotone. Nunca tinha pensado nessa palavra ali no meio da música. Quando ele a cantava, para mim estava se referindo a um “mono tom”, um som sem variação que saía do Black trombone. Foi aí que percebi a origem de monotonia (da palavra e da minha). E isso serve para o “mono tom” das folhas secas de outono.