Olívia chegou em casa cansada das compras e do dia pesado de trabalho. Apenas tirou as sacolas do carro e deixou-as na cozinha. Não estava com saco para guardar tudo naquela hora. Esparramou-se na poltrona e ficou parada por uns 3 minutos olhando fixamente para o piano. Imóvel, quase catatônica, não tinha forças para se levantar, queria ficar nessa posição confortável para sempre.
Moveu um pouco a cabeça e como sempre fazia, tentou buscar uma explicação para seu desânimo. Olhar para o piano a transportava para a sua infância, quando tinha aulas com a Tia Marilene. Desde essa época, Olívia se mostrava desconcentrada do real e concentrada em seu mundo. Tocava aquelas teclas desordenadamente, achava que estava compondo. Sua cabeça flutuava em um grande concerto em que ela era a grande pianista e compositora, ouvia aplausos. Mas logo uma voz a acordava e ela saía do grande teatro para voltar à sala de piano da sua professora.
- Olívia, pára de brincar, você vai desafinar meu piano.
Resignada ela voltava para o Béla Bartók e assim ficava até dar a hora de voltar pra casa.
Decepcionada. É assim que se sente. Mais uma vez a expulsaram do grande teatro da sua imaginação. Mas com quem ela está decepcionada? Com o porteiro do teatro que fingiu não reconhecê-la, ou por acreditar que poderia estar naquele palco?
Promessas. Promessas suas. Promessas deles. Uma vez ela leu que a promessa era eterna porque ela nunca se realizava, depois que se realiza deixa de ser promessa. E enquanto não se realiza existe a esperança de que ainda vai acontecer.
E essa promessa ficou promessa, como todas as outras que já escutou até hoje. Como uma criança que morre e sempre permanecerá criança para quem a conheceu.
O que fazer? Levantar do sofá como sempre, arrumar aquela força que vem das notas musicais. Olívia sabe que é feita de música, agora ela precisa de um cresciendo. E o resto fica para trás, não foi música, foi barulho.
Wednesday, September 17, 2008
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1 comment:
vc tem que fazer isso mais vezes hem lindeza...
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