Antes que Nicole partisse pela última vez da casa de Leonardo, ele quis deixar uma recordação sua com ela.
- Toma, esse é o meu preferido.
- Não vai ter dedicatória?
- Ah, é claro, espera aí que eu vou fazer.
Enquanto ele escrevia, ela andava pela sua casa olhando tudo que não veria jamais. O sofá-cama aberto em frente a televisão, a estante com os mesmos DVDs, o baleiro, o desodorante e a foto da outra mulher que o abraçava.
- Toma, espero que goste. Nicole não via nenhuma verdade nos seus olhos, o que ela via era um alívio que dizia baixinho: vá logo. E foi-se.
No caminho para casa sentia-se aliviada também. Aquilo tudo era ilusão. Faltava muito em Leonardo. Nicole tinha certeza.
Leu a dedicatória do livro mais uma vez e a achou tão genérica... “te dou este livro porque é o meu preferido...”, palavras pobres em uma letra bonita. Nicole preferiu virar outras páginas. O predileto de Leonardo ficou na estante acumulando poeira. Ela tinha horror e medo de abri-lo e encontrar aquela dedicatória sem sal.
Quando ela deixou a casa dele se sentiu tão aliviada, onde se encontrava essa sensação agora? Pensava nele descuidadamente. Parece que o tempo desbotou sua razão.
Numa madrugada de insônia, levantou-se da cama e ficou parada de frente para a estante de livros encarando o “preferido”. De impulso, retirou o livro com violência e foi direto para a dedicatória. Nada tinha mudado. Aquelas palavras continuavam ridículas. Pôs-se a lê-lo.
Primeiro capítulo, nada. Segundo, nada, terceiro, quarto, quinto, sexto... nada. Não é que Nicole procurava respostas no livro? Foi se envolvendo, gostando do enredo e algumas respostas começaram a aparecer. Encontrou até seu personagem. Que decepção! Nicole era um buraquinho. Sim, esse era seu papel no livro. Ficou chateada com a comparação que ela mesma fez. Será que ele pensava assim? Pode ser, mas nesse caso a história é dele. E Nicole será um buraquinho que não foi escavado suficientemente.
Wednesday, August 26, 2009
Tuesday, August 25, 2009
Tá difícil...
Hoje, enquanto tomava café-da-manhã com meu pai, percebi que chuviscava. Vi um guarda-chuva preto e uma sombrinha preta de bolinhas brancas, ou poás, no cabideiro. Fui logo pegando a de poás, mas hesitei um pouco e perguntei para o meu pai:
- Será que a mamãe vai precisar da sombrinha dela?
- Não, essa é minha.
- Eu falo da de bolinhas.
- Pois é, essa é a minha.
- De bolinhas, papai?
- Ué, o vendedor falou que era de homem e que tava usando muito – disse meu pai com a maior cara de inocência.
Não me contive, e a gargalhada explodiu na cara dele.
- Pode levar, Carina. É sua, te dou de presente.
Ficamos rindo por uns 5 minutos.
Acho que é por uns motivos desses que eu não consigo deixar a casa dos meus pais.
- Será que a mamãe vai precisar da sombrinha dela?
- Não, essa é minha.
- Eu falo da de bolinhas.
- Pois é, essa é a minha.
- De bolinhas, papai?
- Ué, o vendedor falou que era de homem e que tava usando muito – disse meu pai com a maior cara de inocência.
Não me contive, e a gargalhada explodiu na cara dele.
- Pode levar, Carina. É sua, te dou de presente.
Ficamos rindo por uns 5 minutos.
Acho que é por uns motivos desses que eu não consigo deixar a casa dos meus pais.
Monday, August 24, 2009
Mentiras cor-de-rosa
Já estava tudo preparado. Eu chegaria em casa assistiria a um filme leve, um musical, e depois dormiria horas para concretizar o meu plano: dormir mais.
O filme era 8 mulheres do François Ozon. Achei engraçado ser um musical, o Ozon sempre faz filmes tão sérios...
Músicas deliciosas e irônicas embalavam aquela história de enredo tragicômico. Fin. Desliguei a TV e fui formir. Lá pelas 5 acordei incomodada, algo não me deixava relaxar. Não precisei pensar muito para chegar no que me cortava o sono.
Foram as verdades. Quando se diz que verdade dói não estão mentindo. E como dói. E o filme era uma enxurrada de verdades. É possível construir uma harmonia com pequenas e grandes mentiras. "Eu te perdoo". "Desculpe, meu despertador quebrou". "O pneu do meu carro furou".
Para que mentir? Esconder erros e imperfeições? Porquê? Medo de magoar? Medo de ser odiado? Odiado por quem? Que dependência é essa do amor e da aprovação dos outros? No filme tem uma canção que traduz bem isso: De que adianta ser livre se se vive sem amor? A quoi sert de vivre libre, interpretada maravilhosamente pela Fanny Ardant, em que ela simula um strip tease, que pode ser visto como uma metáfora para o "desnudar-se". Nesse momento ela se expõe e canta a sua verdade.
É bonito, mas muito triste. Quem vive demais a verdade tem a tendência de ficar só, porque é muito difícil aceitá-la e compreendê-la. Tem até uma frase na música Misread do Kings of Convenience que diz: The loneliest people were the ones who always spoke the truth.
No filme, os personagens escondem "seus erros" com mentiras, porque errar é inadmissível. Mesmo para humanos. Estranhamente, sabendo de nossas limitações, continuamos cobrando essa perfeição das pessoas a nossa volta. Não toleramos uma mentira, mas não damos conta da verdade.
Caramba, tô escrevendo isso há 3 semanas e não consigo terminar, e para piorar a dobradinha verdade-mentira tem me perseguido: é no Paulinho da Viola, é na TV, nos livros... estou me sentindo encurralada. Acho que fui meio prematura em jogar pedras nos mentirosos, porque não existe a verdade absoluta. Cada um tem a sua. E às vezes a mentira é apenas um carinho de quem não queria magoar tanto.
O filme era 8 mulheres do François Ozon. Achei engraçado ser um musical, o Ozon sempre faz filmes tão sérios...
Músicas deliciosas e irônicas embalavam aquela história de enredo tragicômico. Fin. Desliguei a TV e fui formir. Lá pelas 5 acordei incomodada, algo não me deixava relaxar. Não precisei pensar muito para chegar no que me cortava o sono.
Foram as verdades. Quando se diz que verdade dói não estão mentindo. E como dói. E o filme era uma enxurrada de verdades. É possível construir uma harmonia com pequenas e grandes mentiras. "Eu te perdoo". "Desculpe, meu despertador quebrou". "O pneu do meu carro furou".
Para que mentir? Esconder erros e imperfeições? Porquê? Medo de magoar? Medo de ser odiado? Odiado por quem? Que dependência é essa do amor e da aprovação dos outros? No filme tem uma canção que traduz bem isso: De que adianta ser livre se se vive sem amor? A quoi sert de vivre libre, interpretada maravilhosamente pela Fanny Ardant, em que ela simula um strip tease, que pode ser visto como uma metáfora para o "desnudar-se". Nesse momento ela se expõe e canta a sua verdade.
É bonito, mas muito triste. Quem vive demais a verdade tem a tendência de ficar só, porque é muito difícil aceitá-la e compreendê-la. Tem até uma frase na música Misread do Kings of Convenience que diz: The loneliest people were the ones who always spoke the truth.
No filme, os personagens escondem "seus erros" com mentiras, porque errar é inadmissível. Mesmo para humanos. Estranhamente, sabendo de nossas limitações, continuamos cobrando essa perfeição das pessoas a nossa volta. Não toleramos uma mentira, mas não damos conta da verdade.
Caramba, tô escrevendo isso há 3 semanas e não consigo terminar, e para piorar a dobradinha verdade-mentira tem me perseguido: é no Paulinho da Viola, é na TV, nos livros... estou me sentindo encurralada. Acho que fui meio prematura em jogar pedras nos mentirosos, porque não existe a verdade absoluta. Cada um tem a sua. E às vezes a mentira é apenas um carinho de quem não queria magoar tanto.
Monday, August 3, 2009
Aquecimento global
Esse mormaço de verão em pleno inverno. Nenhum vento balança os meus cabelos, muito menos a minha alma.
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