Monday, August 24, 2009

Mentiras cor-de-rosa

Já estava tudo preparado. Eu chegaria em casa assistiria a um filme leve, um musical, e depois dormiria horas para concretizar o meu plano: dormir mais.

O filme era 8 mulheres do François Ozon. Achei engraçado ser um musical, o Ozon sempre faz filmes tão sérios...
Músicas deliciosas e irônicas embalavam aquela história de enredo tragicômico. Fin. Desliguei a TV e fui formir. Lá pelas 5 acordei incomodada, algo não me deixava relaxar. Não precisei pensar muito para chegar no que me cortava o sono.

Foram as verdades. Quando se diz que verdade dói não estão mentindo. E como dói. E o filme era uma enxurrada de verdades. É possível construir uma harmonia com pequenas e grandes mentiras. "Eu te perdoo". "Desculpe, meu despertador quebrou". "O pneu do meu carro furou".

Para que mentir? Esconder erros e imperfeições? Porquê? Medo de magoar? Medo de ser odiado? Odiado por quem? Que dependência é essa do amor e da aprovação dos outros? No filme tem uma canção que traduz bem isso: De que adianta ser livre se se vive sem amor? A quoi sert de vivre libre, interpretada maravilhosamente pela Fanny Ardant, em que ela simula um strip tease, que pode ser visto como uma metáfora para o "desnudar-se". Nesse momento ela se expõe e canta a sua verdade.

É bonito, mas muito triste. Quem vive demais a verdade tem a tendência de ficar só, porque é muito difícil aceitá-la e compreendê-la. Tem até uma frase na música Misread do Kings of Convenience que diz: The loneliest people were the ones who always spoke the truth.

No filme, os personagens escondem "seus erros" com mentiras, porque errar é inadmissível. Mesmo para humanos. Estranhamente, sabendo de nossas limitações, continuamos cobrando essa perfeição das pessoas a nossa volta. Não toleramos uma mentira, mas não damos conta da verdade.

Caramba, tô escrevendo isso há 3 semanas e não consigo terminar, e para piorar a dobradinha verdade-mentira tem me perseguido: é no Paulinho da Viola, é na TV, nos livros... estou me sentindo encurralada. Acho que fui meio prematura em jogar pedras nos mentirosos, porque não existe a verdade absoluta. Cada um tem a sua. E às vezes a mentira é apenas um carinho de quem não queria magoar tanto.

4 comments:

Lo said...

Nem me fale nas verdades e mentiras. Realmente quem admite muito a verdade e pouco a mentira tem a tendência a ficar só, assim como toda exigência excessiva. E quem adota a verdade não admite nem as mentirinhas brancas, né... tenho sofrido disso tb, bota mais uma evidência na sua lista de acontecimentos repetitivos das últimas semanas.

No mais, quanto ao filme, me lembrou aquele diretor, o godART (uhuahuahuahua)

schwenck said...

ahh que lindoo.. adorei. :*

Tael Michael said...

Muito boa a sua reflexão!

Carina said...

Obrigada, Tael :).