Saí mais cedo de casa para evitar o trânsito. Calculei mal, ainda faltava uma hora para a minha homologação. Já que estava longe de casa mesmo, resolvi esperar. Pensei em tomar um café mas estava quente. Fui para a praça da Liberdade, lá tem sempre uns banquinhos livres e sombra.
Ao contrário do resto da cidade, lá ventava e era gostoso sentir o vento retirando os fios de cabelos que caíam sobre meu rosto. Havia muito tempo que eu não sabia o que era estar à toa no meio da tarde sentada em um banco de praça. Esta sensação boa acabou logo que a vergonha e a culpa invadiram a minha mente. Não me permiti desfrutar desse momento mágico às 3 horas da tarde. Tive medo de encontrar conhecidos e ter que me justificar. Que ideia! Que dependência do olhar dos outros.
Na praça havia somente estudantes em seus uniformes, hippies e velhinhos aposentados passeando com seus netinhos. Muitos carrinhos de bebês e crianças aprendendo a andar. Um garotinho que nem 1 ano devia ter veio cambaleante em minha direção, com um olhar sério e fixo. Olhava tão dentro dos meus olhos que era como se eu fosse um fantasma e só ele poderia realmente me enxergar. Mesmo sem dar nenhum sorriso, aquele olhar era puro, não havia julgamentos nem segundas intenções. Aquilo subitamente me encheu de emoção.
Passado o encantamento pela despretensão do menininho, veio um aperto no coração em saber que enquanto ele aprendia a andar, também desaprendia a olhar com os olhos e passava essa função para a cabeça.
Respirei fundo e deixei o mal estar passar. O pior não é ver com a cabeça, é se enxergar no espelho dos olhos dos outros.
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3 comments:
Uau! Que final arrebatador!!!
obrigada :)
Vc anda inspirada, hein?
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