Thursday, December 15, 2011

Tá na cara, tá no nome.

Não era beleza, não sei o que era tão cativante nela. Os pés de galinha ao lado dos olhos eram mais marcas de experiência do que sinais de idade. Não parecia se preocupar com anti-rugas. Ela me lembrava uma mulher de Almodóvar, tinha algo de dramático no olhar, era forte. Sempre com aquele sorriso solícito mas espontâneo. Trabalhava em um restaurante em Montevidéo. Passei uma tarde deliciosa neste lugar com minha irmã. Depois de ser tão bem atendida, perguntei seu nome. Ela me respondeu:

- Ana, mi amor. Cortita como la vida.*



* Ana, meu amor, curta como a vida.



Wednesday, November 23, 2011

Minha leitura


Em um livro autobiográfico da Marguerite Duras, ela disse que não conseguia escrever quando estava com um homem. Precisava da solidão. Fiquei pensando nisso. Porque seria? Poderia ser que se sentisse intimidada, ou talvez, estar junto a alguém não deixasse espaço para pensar em assuntos mais intimistas. Outro dia minha cabeça voltou a esse assunto: ela não queria era revelar seus segredos. Escrever também é uma forma de se mostrar, e será que a gente quer se despir demais para os nossos amantes? Prefiro o mistério.

Ah, o livro se chama Escrever.

Wednesday, October 26, 2011

Friday, July 8, 2011

Apenas uma fotografia

Era uma garotinha engraçada, magrinha de pernas grossas. Devia ter seus dois anos. Vestia uma blusa branca com listas vermelhas bem a moda marinheiro e uma margarida enfeitava seus cabelos curtinhos. Sentada a uma mesa de um caramachão de um bar e segurada pelo pai para não perder o equilíbrio, ela ouvia as músicas que tocavam no rádio e advinhava em seguida quem estava cantando. Nem falava direito, a menininha, mas sabia dizer Roberto Carlos, Rita Lee, Maria Bethânia, Milton Nascimento. Com Gal Costa ela ria mais e acho que batia palmas, se não me falha a memoria. Curiosos como eu nos amontoávamos perto da mesa para ver a prodígio. Era coisa boa de se ver. O pai estava todo orgulhoso. Toda vez que ela acertava, soltava uma gargalhada. Parecia treinada, mas não. Apenas fechava os olhinhos, balançava a cabeça e sentia a música.

Monday, April 11, 2011

SMS

- Tô sentindo um aperto no coração de ficar longe de você... mas pode ser fome também.

Tuesday, February 8, 2011

Beleza e/ou amor

Não entendia muito bem quando meu amigo Juan, na época estudante de Filosofia, dizia com seu jeito dramático e professoral que só a beleza (ele não falava arte, metido!) redimiria os homens. Ele, que era religioso (uma contradição ambulante), falava que nem a religião seria capaz de tanto.

Eu já dizia que isso seria papel do amor. Talvez pareça uma visão um pouco religiosa, mas não era disso que eu estava falando. Não era o amor e a fé em Deus. Era o amor aos outros mesmo.

Mas outro dia eu tive uma experiência que uniu amor e arte. Era mais uma segunda-feira deprimente, aqueles dias que a gente custa a sair da cama para encarar a vida. Cancelei meu pilates na hora do almoço e ia ficar na agência enconstada em algum canto para fugir da realidade no meu sono.

Minha amiga e colega de trabalho, Elisa, reclamou sobre os 14 reais que teria que pagar na locadora por um filme que não tinha visto. Era A Single Man do Tom Ford que foi desgraçadamente traduzido como “Direito de amar”.

- A gente tem duas horas de almoço, Elisa. Vamos ver agora no computador?

Fiquei surpresa. Que filme lindo, sensível! Na minha visão o filme falava justamente como o amor (lato sensu) poderia “salvar”, no caso, um homem da sua ruína. Pode parecer clichê, mas não é. O filme possui cores lavadas e pastéis, mas toda vez que o homem vivenciava uma experiência que envolvesse amor, seja o contato uma amiga, ou o carinho de uma menininha, as cores se esquentavam e ficavam fortes e pulsantes.

O personagem consegue enfrentar a sua solidão e, parece-me, encarar o mundo por causa desse amor a outro ser-humano. E eu consegui encarar a minha segunda-feira graças à arte, ou como diria Juan, à beleza.

ps: O final do filme não é tão previsível assim não, tá? Assistam!

ps: Direito de amar? PQP para essas distribuidoras de filmes brasileiras!

Monday, January 31, 2011

Desafiando a falta de inspiração

Estou bloqueada. Janeiro passou e nada. Tentei escrever várias vezes, mas chegava no meio e não conseguia ir até final. Perguntaram se era felicidade demais. Em partes sim. Tive um fim de ano maravilhoso, estou cada vez mais próxima dos meus amigos e o coração está se ajeitando também. Nada de dramas para despejar em um arquivo em branco.

Pensando bem, ficar sem escrever é um tipo de drama, ou pelo menos é algo que me deixa insatisfeita. É como parar de correr, ou sair da dieta, abandonar o piano. É o meu problema em ir até o final. Porque escrever, além de ser uma forma de me expressar e me conhecer melhor é uma maneira de me aprofundar no exercício da escrita e descobrir a quais caminhos ela pode me levar, o que tem sido muito bom até agora.

Quem sabe se dessa vez eu não passo do enigmático meio que sempre vira final antes da hora?