Depois daquilo não sabia se ficava triste ou feliz. Em meio a sinfonia de telefones, cada um em um tom, cheguei atrasada para trabalhar. A culpa não é minha, é da chuva. Por mais que eu tente acordar cedo tá impossível. Fico na minha cama sentindo o cobertor quentinho no meu corpo, ajeito o travesseiro, mudo de posição, quero transformar mais dez minutos de sono em duas horas. Sonho. Nem o barulho da construção ao lado consegue me tirar daquele sonho bizarro em Paris.
Chego sem graça no trabalho, já eram quase onze horas, duas horas de atraso, mas se levar em consideração que eu trabalhei no feriado e no fim-de-semana, o que são duas horas? Acho que preciso ser mais cara de pau e mostrar nos meus gestos que conheço meus direitos. Tô muito longe de ser máquina. Demasiado humana.
Olhei para minha mesa e aquela confusão, todo mundo tentando fazer o meu trabalho, assumo meu posto e vejo as alterações que tenho que fazer, na sua maioria imbecilidades que meu chefe insiste em colocar para mostrar que sabe mais do que eu. Ele pode até saber umas coisinhas a mais de marketing direto, mas não fala japonês, não sabe quem foi Ted Curson, muito menos quem foi o Divino do Leite. Ele não entende que ninguém sabe mais que ninguém. Apenas sabemos coisas diferentes. Graças a Deus. Mas vamos deixá-lo brincar de todo poderoso. Algumas pessoas precisam disso.
Em um dos textos que ele pediu para que eu alterasse, estava escrito de caneta preta e letra nervosa: isso é citação? Colocar aspas. Citar o autor.
Ai que ótimo, colocar aspas no próprio texto que eu escrevi. Aliás eu deveria ter colocado. Abre aspas, fecha aspas. Carina Gonçalves. O imbecil não acreditou que o texto era meu, achou que eu copiei da internet e pior, tentou me ensinar o uso das aspas.
O texto estava tão bom que não poderia ser meu. Quanto descrédito. O texto não era meu mesmo, era do mundo, vinha das minhas referências, da minha vontade de entender o que se passa aqui, era um pouco de mim.
Engraçado. Foi eu escrever um pouco de mim que ele não acreditou que o texto era meu. Acho que não ando escrevendo sobre mim, acho que não tenho me colocado pra fora. E eu tenho tanto pra despejar…
Ultimamente tenho me achado medíocre no trabalho. Faço tudo rápido e sem vontade. Quero acabar logo com tudo para sobrar mais tempo para responder emails, ficar de papo com os amigos, e porque não, ver um filminho?
Algo tem que mudar. Ou eu me coloco pra fora, ou eu me coloco pra fora e fecha aspas.
Thursday, December 18, 2008
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