Tuesday, January 20, 2009

Elle sait (para Ju e Danilo)

“Você sempre pensou que, em matéria de amor, não amar demais era um meio seguro de ser amado. E você se enganou, meu pobre Federico.” Enrique Vila-Matas

Beatriz não conseguia ficar triste, talvez ficasse um pouco aérea. Não sabia se era o remédio que tomava para a ansiedade ou se era a sua maturidade dando sinais de existência. Será que o tempo a endureceu? Se fosse há um ano ela se veria envolta a uma poça de lágrimas e se fecharia para tudo. Sozinha com seus livros e filmes esperando a dor passar.

Ultimamente ela parece saber o que quer. Estranho - ontem quando conversava com uma amiga que há tempos não via, alguma coisa estalou e depois ecoou em sua cabeça. “Sabe, Beatriz, quando a gente sabe o que quer tudo muda.”

E não é que mudou e ela nem tinha dado conta disso? Não dá para saber tudo, mas ela já sabe algumas poucas coisas que quer.

Porque é tão difícil saber o que quer? Parece que nós desviamos do verdadeiro desejo e colocamos uma lista de coisas materiais e impossíveis na frente. Beatriz costumava fazer listas: um jeans, um tênis colorido, blusas, livros, vestido tomara-que-caia, vestido estampado, saia no joelho, saia na coxa, namorado bonito, inteligente e rico, começar dieta, entrar para a academia, perder dois quilos, mudar de emprego, mudar de profissão, mudar de país, mudar.

Quem tem tempo (e espaço) para pensar no desejo mais íntimo com tanta besteira na frente? Há um mês economizando dinheiro para uma viagem que ela verdadeiramente quer, Beatriz está descobrindo os prazeres gratuitos e toda essa simplicidade a coloca em contato com ela mesma. O muro de excessos que existia entre ela e o espelho foi trocado por um véu de seda. Beatriz ainda não se vê totalmente, mas já enxerga suas formas, sua silhueta e dois brilhos começam a emergir em seus olhos.

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