Era uma manhã chuvosa, entrei naquele café para tomar meu último capuccino em Berlim. Ela já estava pela metade mas era linda, e muito familiar, lembrava algo do meu país. Perguntei à dona do café que música era aquela.
- Portrait in white and black. Beautiful isn’t it?
Mas é claro! Era isso mesmo. Retrato em branco e preto. Mas havia uma coisa diferente nela, algo que nunca senti quando a ouvia.
- And who’s playing?
- Chet Baker.
Fiquei até o final dela, que tem quase 16 minutos de duração. Hoje, vindo para o trabalho e ouvindo a música, cheguei à conclusão de que o único motivo pelo qual Tom Jobim e Chico compuseram essa canção foi para que Chet Baker a gravasse anos depois. Desculpe-me a todos que já a interpretaram e aos próprios Tom e Chico, mas Chet transcedeu não só a letra como também a melodia, aliás ele criou outras melodias dentro de Retrato em branco e preto. Ele consegue fazer uma reviravolta de sentimentos dentro das frases. Ouvindo, consigo sentir melancolia, desespero, solidão, revolta, e um tipo de força que cresce dentro de mim como se eu quisesse vomitar tudo que não me faz bem. É lindo demais. E todas as vezes que ouço fico tocada.
Fico pensando em como Chet Baker conseguiu despejar tudo isso dentro de uma canção. Para mim é uma das catarses mais bonitas que já ouvi.
Para quem quiser ouvir, é do disco Live in Tokyo de 1987.
Monday, October 26, 2009
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1 comment:
Essa música, numa manhã chuvosa... Tenho todas as versões de Retrato em Branco e Preto, só não tenho essa. Com certeza, tomaria um café até a última nota de Chet.
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