Acordei decidida a limpar a minha casa. Inacreditavelmente estava sem preguiça. Liguei o som alto e comecei pela a cama, estendi o lençol azul, dobrei o cobertor, e cobri com a colcha que mais gosto.
O chão estava cheio de roupas, cintos, meias – como pude ser tão descuidada e ter deixado acumular. A aparência do meu quarto mudou, ficou muito mais habitável.
Banheiro, cozinha, tudo brilhando. Só faltava varrer. Odeio varrer, porque sempre sobra um pouquinho que não cabe na pá. Ou eu pegava um pano molhado para tirar o pó final ou simplesmente empurrava para debaixo do tapete. Como eu já estava cansada de toda arrumação, segui a lei do menor esforço.
Ficou linda a minha casa, nem conseguia mais imaginá-la suja. Dava até gosto de ficar em casa sentindo orgulho do meu trabalho. Dias depois deitei em cima do tapete para ver TV e comecei a espirrar, o pó continuava lá, era tão pouco, mas me fez tão mal. Levantei com raiva e passei o pano molhado no chão.
Continuei espirrando por algum tempo, meu olho até encheu de água, mas já passou. Tá passando.
Tuesday, June 30, 2009
Sunday, June 28, 2009
Sem cerimônias em desenho
Feitos por minha amiga, a talentosa e sensível Denise Schwenck.
http://www.deniseschwenck.blogspot.com/
http://www.deniseschwenck.blogspot.com/
Friday, June 26, 2009
Dans Paris
Era seu penúltimo dia em Paris, vivia algo diferente, um estado de euforia provocado pela beleza da cidade e as novidades. Mas seu coração às vezes apertava, porque ele não dava sinais de vida? Logo abafava esse sentimento e a euforia tomava conta novamente.
Foi a um jantar preparado por seus novos amigos. Muito vinho, comida japonesa. Os sabores antigos acionavam uma das suas melhores memórias, o seu intercâmbio. Depois música, muito Paolo Conte, cenas de filme, François Ozon. Tudo aquilo a deixava a beira de um ataque de felicidade.
Quando todos iam para casa ela pensou: não posso ir dormir agora, tenho que aproveitar até a última gota dessa alegria.
Seu amigo a deixou na frente de uma boite da cidade, o Club Social. Ela olhou para o segurança, deixou transparecer sua confiança e entrou. Não era a roupa que escolheria para dançar, nem o sapato, nem o cabelo.
Ali ela tinha outro nome, Valentina. Valente, mas a ideia de estar sozinha em um lugar onde não conhecia ninguém a assustava um pouco. Pensou no bar, lá além de tomar um drink, poderia conversar com o barman, nos filmes isso sempre dava certo.
Analisou o menu. Tudo muito caro para o seu orçamento, a bebida mais barata que conseguiu era 5 euros – um shot de vodka. Virou o shot e encostou o bar, inebriada pelas luzes e a boa música que saía das pick ups do dj. Não se passaram nem 2 minutos e um rapaz se aproximou em francês: posso te convidar para um drink? Sua visão escaneou o rapaz de cima embaixo. Era atraente, cabelos castanhos encaracolados, pele branca cheia de sardinhas. Valentina sempre gostou de sardas, pintas e afins. Ela aceitou a vodka com energético e puseram-se a conversar.
Primeiro assunto: de onde você é? Espanha? Itália? Alemanha? Estados Unidos? Austrália? Índia? Portugal? E dá-lhe geografia, e dá-lhe nenhum acerto.
Rindo ela disse Brasil. A palavra Brasil sempre causou um estranho efeito nos homens estrangeiros, blame it on Rio.
O papo conntinou, o que você faz? O que faz aqui? Quantos dias? Cinema. Música. Filosofia de boite. E danças, e risadas, mais vodka com energético, e fotos e vídeos, e conversas com os amigos do rapaz, e amizades de uma noite só. E beijo. E mais beijo e mais e mais e mais e tesão.
Frederique propôs a Valentina sair logo dali para o seu apartamento. Ela nem pensou duas vezes. Oui, bien sûre.
Saíram os dois loucos pela madrugada parisiense, enconstando nos muros, beijando-se com violência, derrubando motos, e chegaram ao apartamento.
Frederique morava em um grande apartamento que dividia com mais duas amigas. No seu quarto havia vários livros de filosofia, anotações espalhadas, um mapa mundi e um piano. A cama era confortável, ela já foi deitando e ele seguiu atrás, beijaram-se e terminaram o que haviam começado. Foi mais ou menos. Para ela valeu muito mais a aventura.
Depois de tudo Frederique contou que tinha uma namorada na Turquia e que se arrependeu do que tinha acontecido. Valentina não deu a mínima para o desolado arrependimento dele e mais uma vez devorou le garçon, que logo esqueceu sua turca e caiu em um sono pesado. Exausta ela pensou em dormir, a cama estava convidativa e fazia frio. Olhou-o, ele babava no travesseiro completamente apagado.
Não conseguiu pensar nem uma vez, vestiu sua roupa e nem se despediu. Achou a saída do apartamento e saiu pela manhã gélida de Paris. Todas as ruas e edifícios pareciam iguais. Como acharia a casa onde estava hospedada? Seguiu seu instinto que estava falando alto naquele dia, 10 minutos depois encontrou a rua. Subiu e dormiu.
No dia seguinte já não era mais a Valentina, era ela mesmo. Tinha adorado as aventuras da outra na noite anterior.
Valentina preferiu ficar em Paris, mas soube-se que às vezes ela vem ao Brasil de visita.
Foi a um jantar preparado por seus novos amigos. Muito vinho, comida japonesa. Os sabores antigos acionavam uma das suas melhores memórias, o seu intercâmbio. Depois música, muito Paolo Conte, cenas de filme, François Ozon. Tudo aquilo a deixava a beira de um ataque de felicidade.
Quando todos iam para casa ela pensou: não posso ir dormir agora, tenho que aproveitar até a última gota dessa alegria.
Seu amigo a deixou na frente de uma boite da cidade, o Club Social. Ela olhou para o segurança, deixou transparecer sua confiança e entrou. Não era a roupa que escolheria para dançar, nem o sapato, nem o cabelo.
Ali ela tinha outro nome, Valentina. Valente, mas a ideia de estar sozinha em um lugar onde não conhecia ninguém a assustava um pouco. Pensou no bar, lá além de tomar um drink, poderia conversar com o barman, nos filmes isso sempre dava certo.
Analisou o menu. Tudo muito caro para o seu orçamento, a bebida mais barata que conseguiu era 5 euros – um shot de vodka. Virou o shot e encostou o bar, inebriada pelas luzes e a boa música que saía das pick ups do dj. Não se passaram nem 2 minutos e um rapaz se aproximou em francês: posso te convidar para um drink? Sua visão escaneou o rapaz de cima embaixo. Era atraente, cabelos castanhos encaracolados, pele branca cheia de sardinhas. Valentina sempre gostou de sardas, pintas e afins. Ela aceitou a vodka com energético e puseram-se a conversar.
Primeiro assunto: de onde você é? Espanha? Itália? Alemanha? Estados Unidos? Austrália? Índia? Portugal? E dá-lhe geografia, e dá-lhe nenhum acerto.
Rindo ela disse Brasil. A palavra Brasil sempre causou um estranho efeito nos homens estrangeiros, blame it on Rio.
O papo conntinou, o que você faz? O que faz aqui? Quantos dias? Cinema. Música. Filosofia de boite. E danças, e risadas, mais vodka com energético, e fotos e vídeos, e conversas com os amigos do rapaz, e amizades de uma noite só. E beijo. E mais beijo e mais e mais e mais e tesão.
Frederique propôs a Valentina sair logo dali para o seu apartamento. Ela nem pensou duas vezes. Oui, bien sûre.
Saíram os dois loucos pela madrugada parisiense, enconstando nos muros, beijando-se com violência, derrubando motos, e chegaram ao apartamento.
Frederique morava em um grande apartamento que dividia com mais duas amigas. No seu quarto havia vários livros de filosofia, anotações espalhadas, um mapa mundi e um piano. A cama era confortável, ela já foi deitando e ele seguiu atrás, beijaram-se e terminaram o que haviam começado. Foi mais ou menos. Para ela valeu muito mais a aventura.
Depois de tudo Frederique contou que tinha uma namorada na Turquia e que se arrependeu do que tinha acontecido. Valentina não deu a mínima para o desolado arrependimento dele e mais uma vez devorou le garçon, que logo esqueceu sua turca e caiu em um sono pesado. Exausta ela pensou em dormir, a cama estava convidativa e fazia frio. Olhou-o, ele babava no travesseiro completamente apagado.
Não conseguiu pensar nem uma vez, vestiu sua roupa e nem se despediu. Achou a saída do apartamento e saiu pela manhã gélida de Paris. Todas as ruas e edifícios pareciam iguais. Como acharia a casa onde estava hospedada? Seguiu seu instinto que estava falando alto naquele dia, 10 minutos depois encontrou a rua. Subiu e dormiu.
No dia seguinte já não era mais a Valentina, era ela mesmo. Tinha adorado as aventuras da outra na noite anterior.
Valentina preferiu ficar em Paris, mas soube-se que às vezes ela vem ao Brasil de visita.
Monday, June 22, 2009
Sem cerimônias
Ela precisava voltar para ver como tinha deixado tudo. Abriu a porta e recebeu um abraço caloroso que causou pequenos terremotos em seu estômago, quase perde o equilíbrio. Não sabe se foi ele ou ela quem tomou a iniciativa do beijo, pouco importava, era recíproco.
Ele a mostrou um livro de gravuras que havia comprado, ela via as imagens fingindo um certo interesse, não queria perder seu tempo, queria ir pra cama dele que imaginava desarrumada com o lençol e o edredom enrolados. A cama desarrumada dava uma sensação de conforto. Lembrou-se de quando era pequena e a empregava faltava, encontrava sua cama toda revirada como havia deixado pela manhã, e se jogava nos lençóis, sentia a textura do algodão nas suas pernas, era um pequeno momento de felicidade.
Olhou para ele com cara de menina pidona, na mesma hora ele entendeu e fechou o livro. Pegou sua mão e a levou para o quarto.
Sentaram-se na cama e ele começou a despi-la, peça por peça, parou no sutiã, era um modelo novo, cruzado nas costas que ele ainda não conhecia, depois de analisá-lo o tirou e só ela poderia dizer como o rosto dele se iluminou ao ver seus seios que não eram grandes nem pequenos, brancos com a auréola rosada, que se destacavam do resto do seu corpo moreno de sol. Pegou-os com vontade e beijou-os. Ela se estremeceu, ver aquele prazer nos olhos dele a deixava cada vez mais excitada. Tirou a roupa dele sem o mesmo cuidado, ela precisava senti-lo, encostar cada parte do seu corpo no dele.
Aquela pele, o cheiro, tudo a deixava cada vez mais ébria. Agora ela era ela, senhora de si, sem fingimentos, sem interesses. Gozou mais rápido do que costume, já não conseguia segurar mais as fantasias que teve pensando nele por toda uma semana. Ele tão pouco conseguiu segurar.
Foi intenso. Foi explosivo. Foi a última vez.
Olharam-se e beijaram-se, ficaram grudados um ao outro pelo suor dos seus corpos. Ela não queria desgrudar, desejava que esse momento durasse pelo menos uma noite. Impossível, estavam em seus horários de almoço. Em pouco tempo teriam que voltar para o trabalho.
Ele foi ao banheiro e quando voltou a encontrou nua, sentada na beirada da cama, cantarolando uma canção que falava de um amor unilateral. Ele a olhou e fez um carinho tão terno que a emocionou, ressabiada perguntou: porque esse carinho?
Ele: saudade de você e da sua cantoria.
Apesar de tudo, ela sabia que não era possível ficarem juntos, não só porque ele não queria, mas porque ela descobriu que ele não fora feito para ela. Muito fechado, e só se abria durante o sexo. Ela tentava se abrir e ele não permitia, não queria saber. O sexo já estava de bom tamanho. Ela que gostava dos detalhes, da poesia, das complicações do ser-humano, das descobertas, não aguentou. Despediu-se ali mesmo, silenciosamente, mas ele escutou. Seus olhos de libanesa falavam mais que sua voz doce e meio rouca.
Saiu com os olhos molhados mas com um sorriso no canto dos lábios. Nada a deixava mais feliz do que uma decisão.
Ele a mostrou um livro de gravuras que havia comprado, ela via as imagens fingindo um certo interesse, não queria perder seu tempo, queria ir pra cama dele que imaginava desarrumada com o lençol e o edredom enrolados. A cama desarrumada dava uma sensação de conforto. Lembrou-se de quando era pequena e a empregava faltava, encontrava sua cama toda revirada como havia deixado pela manhã, e se jogava nos lençóis, sentia a textura do algodão nas suas pernas, era um pequeno momento de felicidade.
Olhou para ele com cara de menina pidona, na mesma hora ele entendeu e fechou o livro. Pegou sua mão e a levou para o quarto.
Sentaram-se na cama e ele começou a despi-la, peça por peça, parou no sutiã, era um modelo novo, cruzado nas costas que ele ainda não conhecia, depois de analisá-lo o tirou e só ela poderia dizer como o rosto dele se iluminou ao ver seus seios que não eram grandes nem pequenos, brancos com a auréola rosada, que se destacavam do resto do seu corpo moreno de sol. Pegou-os com vontade e beijou-os. Ela se estremeceu, ver aquele prazer nos olhos dele a deixava cada vez mais excitada. Tirou a roupa dele sem o mesmo cuidado, ela precisava senti-lo, encostar cada parte do seu corpo no dele.
Aquela pele, o cheiro, tudo a deixava cada vez mais ébria. Agora ela era ela, senhora de si, sem fingimentos, sem interesses. Gozou mais rápido do que costume, já não conseguia segurar mais as fantasias que teve pensando nele por toda uma semana. Ele tão pouco conseguiu segurar.
Foi intenso. Foi explosivo. Foi a última vez.
Olharam-se e beijaram-se, ficaram grudados um ao outro pelo suor dos seus corpos. Ela não queria desgrudar, desejava que esse momento durasse pelo menos uma noite. Impossível, estavam em seus horários de almoço. Em pouco tempo teriam que voltar para o trabalho.
Ele foi ao banheiro e quando voltou a encontrou nua, sentada na beirada da cama, cantarolando uma canção que falava de um amor unilateral. Ele a olhou e fez um carinho tão terno que a emocionou, ressabiada perguntou: porque esse carinho?
Ele: saudade de você e da sua cantoria.
Apesar de tudo, ela sabia que não era possível ficarem juntos, não só porque ele não queria, mas porque ela descobriu que ele não fora feito para ela. Muito fechado, e só se abria durante o sexo. Ela tentava se abrir e ele não permitia, não queria saber. O sexo já estava de bom tamanho. Ela que gostava dos detalhes, da poesia, das complicações do ser-humano, das descobertas, não aguentou. Despediu-se ali mesmo, silenciosamente, mas ele escutou. Seus olhos de libanesa falavam mais que sua voz doce e meio rouca.
Saiu com os olhos molhados mas com um sorriso no canto dos lábios. Nada a deixava mais feliz do que uma decisão.
Tuesday, June 16, 2009
Andar sem sair do lugar
Todo dia ele fazia o mesmo caminho. Saía de casa, virava à esquerda, 20 m depois à direita e seguia reto toda a vida. Chegava ao trabalho, saía para o almoço pontualmente. Mesma mesa do mesmo restaurante barato. Café com os mesmos conhecidos, trabalho e o caminho inverso, toda a vida, esquerda, 20 metros e direita.
Um dia interditaram seu caminho, ficou perdido. Sentou-se no chão desesperado. Não conseguia ir para direita nem para a esquerda, tentou descer para debaixo dos seus pés, mas não foi possível. Depois de tanto tempo em pé na frente de casa descobriu um novo caminho, e mais outro, e mais outro e um monte mais. Uns eram mais interessantes, outros mais rápidos, outros perigosos.
Até que um dia, sem mapa, nem GPS viu um caminho diferente que nunca tinha visto, nem sabia que ele existia. Era um caminho cheio de música, cor e risos. Ele adorava esse caminho. Repetia todos os dias, andava por ele saltitando, estava feliz.
No dia seguinte o caminho colorido estava fechado para reformas, a placa dizia que era por pouco tempo. Ele pensou em esperar as reformas, mas passando pelo seu antigo caminho observou que não estava mais interditado. Sentiu-se esquisito, não sabia se passava por essas ruas sem cor que conhecia de cor. Olhou para o caminho colorido pela última vez e seguiu a direita, a esquerda e reto por toda vida.
Um dia interditaram seu caminho, ficou perdido. Sentou-se no chão desesperado. Não conseguia ir para direita nem para a esquerda, tentou descer para debaixo dos seus pés, mas não foi possível. Depois de tanto tempo em pé na frente de casa descobriu um novo caminho, e mais outro, e mais outro e um monte mais. Uns eram mais interessantes, outros mais rápidos, outros perigosos.
Até que um dia, sem mapa, nem GPS viu um caminho diferente que nunca tinha visto, nem sabia que ele existia. Era um caminho cheio de música, cor e risos. Ele adorava esse caminho. Repetia todos os dias, andava por ele saltitando, estava feliz.
No dia seguinte o caminho colorido estava fechado para reformas, a placa dizia que era por pouco tempo. Ele pensou em esperar as reformas, mas passando pelo seu antigo caminho observou que não estava mais interditado. Sentiu-se esquisito, não sabia se passava por essas ruas sem cor que conhecia de cor. Olhou para o caminho colorido pela última vez e seguiu a direita, a esquerda e reto por toda vida.
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