Acabei de ler “ Travesuras de la nina mala”. Li a última frase do livro como alguém que acaba de desvendar um segredo. Mas não um segredo comum. Algo muito maior. O personagem central do livro é um romântico que nunca teve muitas ambições na vida. Desde pequeno só queria morar em Paris, e assim fez.
Lá trabalhava como intérprete e às vezes chegou até traduzir alguns livros. Mas o tempo todo viveu a vida dos outros, o livro dos outros, as paixões dos outros. Nunca amou outra mulher a não ser a que mais lhe maltratava, que fazia com ele as maiores sujeiras que um ser-humano podia fazer a outro. Mas ela era a sua paixão, a niña mala.
Ele viveu essa paixão da forma mais intensa possível. Por ela deixava trabalho, ia até o Japão,e se fosse preciso até se casava com ela. Uma história de amor unilateral difícil de acreditar que possa existir. Ela, não sei se chegou a amá-lo, mas definitivamente amava a forma de como ele a adorava apesar de tudo.
Em todo livro a ambição da niña mala, a coragem para abandonar tudo, a franqueza dela nos leva crer que não existiria alguém com aquela fidelidade aos próprios sentimentos e aspirações. Mas tudo resultou em castelos de areias, na verdade ela não sabia o que queria. Buscava algo com muito empenho, mas não era nada daquilo, nada a preenchia. El niño bueno por sua vez, parecia um fraco que só sabia se submeter aos caprichos da niña mala, foi a pessoa mais verdadeira a sua aspiração. Ele só queria amar a niña e o fez até o final da vida dela. E assim permaneceu encontrando nela, em todo esse tempo que não foi desperdiçado(por mais que parecesse), a sua vocação e a paixão que talvez reprimia ou não enxergava que era escrever. Não mais transcrever o que os outros falavam ou escreviam, mas sim a sua história, a sua vida. Ela já havia lhe dado o material. Uma vida de amores impossíveis.
O segredo que eu mencionei no início é algo sub-valorizado nos dias de hoje, trata-se de viver a vida com paixão, fazer o que ama, sem a ambição material. É romântico, eu sei, mas não dá para fugir do que se é.
Talvez eu não tenha encontrado isso profissionalmente, mas tenho certeza que amo tudo que é periférico ao meu trabalho. E faço tudo sem qualquer ambição, faço simplesmente pela paixão.
Travesuras de la niña mala.
Mario Vargas Llosa
Friday, December 7, 2007
Monday, December 3, 2007
Uma pergunta nao quer calar: Por quê nos ocultamos? ( Juan )
(texto do Joãozinho, vulgo Juan Benítez)
Era uma jovem senhora. Vivia só, em um apartamento normal, como normal sao sempre as coisas da vida. Faço uma correçao. Nao vivia totalmente só,a parte do seu asqueroso gato, alguns fantasmas conviviam em seu apartamento normal e às vezes lhe alegrava outras tornava sua vida impossível.
Cada um, quando nasce, tem um fantasma para acompanhar-lhe por toda vil existência. E cada um tem o fantasma que merece. Nao os escolhemos. Ao contrário, sao eles que nos escolhem. Penso que todos os dias pela manha existe uma convençao fantasmagórica onde se decide a qual fantasma caberá a missao de tutear um ser-humano.
Bom, o importante, é que esta mulher conhecia os seus fantasmas. E conhecer seus fantasmas nao é o mesmo que aceita-los. Existem pessoas que passa toda a vida lutando contras eles, mas na verdade é uma luta injusta. Exorcizar nossos fantasmas significa ignorar nossa pulsao de vida.
Mas como dói aprender a conviver com eles. O fato é que esta senhora nao havia aceitado os seus fantasmas o que sim havia ocorrido é que ela cedeu parte de sua casa para eles fazerem o que quiserem.
E assim foi. Ela sabia que seus inquilinos jamais se afastariam, de modo que ela pensou. "Tem uma forma simples de expulsar estes indesejáveis ocupantes: me aceitarei tal como sou. Nao sou jovem, mas vivi o suficiente para nao desejar voltar aos 17; nao sou bonita, mas de qualquer modo isso nunca foi empecilho para deitar-me com o homem (ou mulher) que quisesse. Nao sou rica, Mas mensalmente posso comprar meu Dior, meu Manolo, ou se quero um Oscar de la Renta. Nao sou inteligente, ah, taopouco é algo importante em nossos dias".
E assim ela passou o dia construindo uma lista das coisas positivas que possuia. E ao fim percebeu que apesar disso tudo ela nao tinha um amor de verdade. Um amor daqueles cujo maior beneficio é fazer amar a si, mais e intensamente. E dessa forma num raio de desesperança ela sentiu que seus fantasmas já nao faziam parte de sua vida normal. Eles foram expulsos quando ela autodescobriu que os fantasmas sao na verdade, a dor nossa de cada dia, fruto bendito de nossa desgraçada condiçao de errantes angustiados; sedentos de respostas e esfomiados de esperança. Os fantasmas se alimentam de nossa autodestruiçao, sao viventes de nossa autopiedade.
Naquela noite, primeira realmente só, ela sentiu uma dor como nunca jamais havia sentido. Era a dor da solidao. Entao, foi quando ela chorou. Suas lágrimas diziam o que no seu coraçao ardia. Aceitar-se, ajuda a descobrir algumas respostas. Mas o conhecimento da causa nao cura a dor. E por isso preferimos viver na ignorancia e nos ocultamos atrás dos nossos fantasmas.
E pois, ela sentiu saudades de seus fantasmas e desejou fortemente re-adquiri-los.
Mas já era tarde. Uma vez cruzado a linha do conhecimento o caminho percorrido se desfaz.
Agora ela necessita aprender a conviver sem os seus fantasmas e sem um amor. E ao seu gato que nunca lhe fez caso ela disse entre soluços: Quisera voltar à ignorancia.
Era uma jovem senhora. Vivia só, em um apartamento normal, como normal sao sempre as coisas da vida. Faço uma correçao. Nao vivia totalmente só,a parte do seu asqueroso gato, alguns fantasmas conviviam em seu apartamento normal e às vezes lhe alegrava outras tornava sua vida impossível.
Cada um, quando nasce, tem um fantasma para acompanhar-lhe por toda vil existência. E cada um tem o fantasma que merece. Nao os escolhemos. Ao contrário, sao eles que nos escolhem. Penso que todos os dias pela manha existe uma convençao fantasmagórica onde se decide a qual fantasma caberá a missao de tutear um ser-humano.
Bom, o importante, é que esta mulher conhecia os seus fantasmas. E conhecer seus fantasmas nao é o mesmo que aceita-los. Existem pessoas que passa toda a vida lutando contras eles, mas na verdade é uma luta injusta. Exorcizar nossos fantasmas significa ignorar nossa pulsao de vida.
Mas como dói aprender a conviver com eles. O fato é que esta senhora nao havia aceitado os seus fantasmas o que sim havia ocorrido é que ela cedeu parte de sua casa para eles fazerem o que quiserem.
E assim foi. Ela sabia que seus inquilinos jamais se afastariam, de modo que ela pensou. "Tem uma forma simples de expulsar estes indesejáveis ocupantes: me aceitarei tal como sou. Nao sou jovem, mas vivi o suficiente para nao desejar voltar aos 17; nao sou bonita, mas de qualquer modo isso nunca foi empecilho para deitar-me com o homem (ou mulher) que quisesse. Nao sou rica, Mas mensalmente posso comprar meu Dior, meu Manolo, ou se quero um Oscar de la Renta. Nao sou inteligente, ah, taopouco é algo importante em nossos dias".
E assim ela passou o dia construindo uma lista das coisas positivas que possuia. E ao fim percebeu que apesar disso tudo ela nao tinha um amor de verdade. Um amor daqueles cujo maior beneficio é fazer amar a si, mais e intensamente. E dessa forma num raio de desesperança ela sentiu que seus fantasmas já nao faziam parte de sua vida normal. Eles foram expulsos quando ela autodescobriu que os fantasmas sao na verdade, a dor nossa de cada dia, fruto bendito de nossa desgraçada condiçao de errantes angustiados; sedentos de respostas e esfomiados de esperança. Os fantasmas se alimentam de nossa autodestruiçao, sao viventes de nossa autopiedade.
Naquela noite, primeira realmente só, ela sentiu uma dor como nunca jamais havia sentido. Era a dor da solidao. Entao, foi quando ela chorou. Suas lágrimas diziam o que no seu coraçao ardia. Aceitar-se, ajuda a descobrir algumas respostas. Mas o conhecimento da causa nao cura a dor. E por isso preferimos viver na ignorancia e nos ocultamos atrás dos nossos fantasmas.
E pois, ela sentiu saudades de seus fantasmas e desejou fortemente re-adquiri-los.
Mas já era tarde. Uma vez cruzado a linha do conhecimento o caminho percorrido se desfaz.
Agora ela necessita aprender a conviver sem os seus fantasmas e sem um amor. E ao seu gato que nunca lhe fez caso ela disse entre soluços: Quisera voltar à ignorancia.
Presentando Juan Benítez
Para quem não conhece, Juan Benítez é um grande amigo meu. Nosso caso de amor não foi a primeira vista, ele me achou uma patricinha antipática, eu não fui tão preconceituosa assim, quer dizer, talvez fui, mas não por maldade, por experiência enxerguei o segredo que ele tanto escondia. Um dia, por acaso nos sentamos lado a lado, e subitamente crescia uma grande simpatia e afinidade. Entre teatrinhos e melocotóns nos tornamos grandes amigos. Toda terça e quinta a gente se encontrava. A gente tava lá pra aprender, mas em meios a ensinamentos de crentes, loucas, queridas conseguíamos tirar todo o peso do aprendizado e tranformávamos em leves risadas. A amizade persistiu. Já tem 7 anos, os dois mudaram, cresceram inclusive nos músculos. O legal da amizade com o Juan, é que ele não pára de me surpreender. Conhecedor da alma humana, dono dos melhores conselhos, amigo das palavras, sensível, culto, solícito, inteligente. Assim é o Juan.
Estou introduzindo ele nesse blog porque quero dividir com quem vem aqui as palavras que ele escreve, não seria justo guardar só pra mim.
Com vocês, diretamente de Pamplona: Juan B.
Estou introduzindo ele nesse blog porque quero dividir com quem vem aqui as palavras que ele escreve, não seria justo guardar só pra mim.
Com vocês, diretamente de Pamplona: Juan B.
Friday, November 30, 2007
Maio, o frio e os presentes
(mais um de maio deste ano. êta mês bom pra escrever. acho que o frio faz refletir)
Eu pensei que ele nunca chegaria, enfim, assim sem falar nada, chegou nessa madrugada de maio. Ele. O frio, o anúncio do inverno. Me pegou de surpresa, acho que ele não sabia das minhas aulas de natação. Mas tudo bem, não foi tão ruim assim. Ele ficou na dele e nem me incomodou.
Como ele nunca vem sozinho, trouxe aquele azul que eu gosto tanto. Que dia diferente, pensei. Quando maio começa, sinto que uma porta é aberta, não sei se é porque é o mês que eu faço aniversário, ou é só a mudança do tempo que me traz algo novo. Mas hoje com certeza tem algo novo. Começo o dia ouvindo um lindo CD do Baden com o Grappelli, a melhor trilha para esse dia maravilhoso.
Sabe aquela sensação de intimidade que podemos ter com objetos, músicas, lugares, pessoas. Por exemplo, quando alguém fala para você: “Ei, ouvi um disco foda de um cara argentino, de tango...” – No meio da fala do seu amigo, você já sabe que ele vai falar Piazzolla e sente com um arzinho de superioridade, como se você e o Astor, já fossem íntimos de longa data. Sabe essa sensação? É isso que eu sinto com o frio, é como se eu o conhecesse mais e melhor do que todos. Como se ele me pertencesse. Ei, o frio é meu.
Tudo isso me leva para longe, para 10 anos atrás. Outono, Ohta-ku, Tóquio, discman, sagamichi, uniforme, cabelos úmidos, azul, muito azul, felicidade que vem de lugar nenhum, sem saber porque, metrô, meus 18 anos.
Voltando ao presente, uma vez ouvi dizer que sou uma pessoa de decisão. Vivo confusa, indecisa, as vezes até medrosa e quando tomo atitudes, acho que são de supetão, mas ao longo desses anos, vi que foram as melhores decisões e nem se elas fossem milimetricamente calculadas dariam tão certo.
Outro dia abri uma portinha do meu passado, mais por curiosidade do que por saudade. A princípio, me pareceu interessante ver como a vida caminhava por lá, as direções que tinha tomado. Aquela vida independente que corria sem mim. Depois de um tempo percebi que aquilo não fazia mais parte da minha vida. A caixa de Pandora tinha que ser fechada rapidamente, antes que espalhasse todo o mal novamente. Foi fechada e selada. Endereçada ao desavisado que queira abrir.
Desavisado é a palavra. Quando uma caixa chega até você, qual a primeira coisa que você pensa? 3 chances para advinhar. Já falou presente de cara, não é? Imaginei... Presente, com laços, embrulho bonito. Depois de aberta, não era aquilo que você tinha imaginado. A caixa está vazia. Não tem nada lá. E o nada te preenche com tudo que há de desagradável no mundo. Fica difícil tirar tudo isso de você depois, porque é como uma fumaça que te impregna todo.
Mas você pode fechar a caixinha. Tantas vezes quiser. Depois de um tempo você passa a receber caixas com laços dourados e já joga no lixo sem nem mesmo abrir.
Mas era do frio que eu estava falando, né? Pois bem. O dia está lindo, as caixas estão fechadas e o presente está aí.
Eu pensei que ele nunca chegaria, enfim, assim sem falar nada, chegou nessa madrugada de maio. Ele. O frio, o anúncio do inverno. Me pegou de surpresa, acho que ele não sabia das minhas aulas de natação. Mas tudo bem, não foi tão ruim assim. Ele ficou na dele e nem me incomodou.
Como ele nunca vem sozinho, trouxe aquele azul que eu gosto tanto. Que dia diferente, pensei. Quando maio começa, sinto que uma porta é aberta, não sei se é porque é o mês que eu faço aniversário, ou é só a mudança do tempo que me traz algo novo. Mas hoje com certeza tem algo novo. Começo o dia ouvindo um lindo CD do Baden com o Grappelli, a melhor trilha para esse dia maravilhoso.
Sabe aquela sensação de intimidade que podemos ter com objetos, músicas, lugares, pessoas. Por exemplo, quando alguém fala para você: “Ei, ouvi um disco foda de um cara argentino, de tango...” – No meio da fala do seu amigo, você já sabe que ele vai falar Piazzolla e sente com um arzinho de superioridade, como se você e o Astor, já fossem íntimos de longa data. Sabe essa sensação? É isso que eu sinto com o frio, é como se eu o conhecesse mais e melhor do que todos. Como se ele me pertencesse. Ei, o frio é meu.
Tudo isso me leva para longe, para 10 anos atrás. Outono, Ohta-ku, Tóquio, discman, sagamichi, uniforme, cabelos úmidos, azul, muito azul, felicidade que vem de lugar nenhum, sem saber porque, metrô, meus 18 anos.
Voltando ao presente, uma vez ouvi dizer que sou uma pessoa de decisão. Vivo confusa, indecisa, as vezes até medrosa e quando tomo atitudes, acho que são de supetão, mas ao longo desses anos, vi que foram as melhores decisões e nem se elas fossem milimetricamente calculadas dariam tão certo.
Outro dia abri uma portinha do meu passado, mais por curiosidade do que por saudade. A princípio, me pareceu interessante ver como a vida caminhava por lá, as direções que tinha tomado. Aquela vida independente que corria sem mim. Depois de um tempo percebi que aquilo não fazia mais parte da minha vida. A caixa de Pandora tinha que ser fechada rapidamente, antes que espalhasse todo o mal novamente. Foi fechada e selada. Endereçada ao desavisado que queira abrir.
Desavisado é a palavra. Quando uma caixa chega até você, qual a primeira coisa que você pensa? 3 chances para advinhar. Já falou presente de cara, não é? Imaginei... Presente, com laços, embrulho bonito. Depois de aberta, não era aquilo que você tinha imaginado. A caixa está vazia. Não tem nada lá. E o nada te preenche com tudo que há de desagradável no mundo. Fica difícil tirar tudo isso de você depois, porque é como uma fumaça que te impregna todo.
Mas você pode fechar a caixinha. Tantas vezes quiser. Depois de um tempo você passa a receber caixas com laços dourados e já joga no lixo sem nem mesmo abrir.
Mas era do frio que eu estava falando, né? Pois bem. O dia está lindo, as caixas estão fechadas e o presente está aí.
Caracóis
(Na falta de coisa nova pra postar vai esse aqui de maio desse ano)
Linda. Era assim que estava e se sentia. Mas com muito medo daquilo tudo que vinha dela. Era natural, era ela. Tinha a perfeição da imperfeição. Leve, cacheada, simples mas emaranhada. Assim era.
Quem conseguiria derrubar aquela estátua? Assim foi ela. Entrou no lugar protegida por seus cachos castanhos.
Ele a avistou e disse: você tá engraçada. Ele nunca a havia visto assim. Tão solta, tão leve, tão cacheada e pensou o contrário. Pensou que estivesse armada. Será que ele foi tão cego de perceber que ela sempre foi assim? Ou foi ela que nunca se mostrou?
2 anos. Nada. Não pode ser ela. Como não, se ela nasceu assim?
Percebe quem merece. E só se deve mostrar a quem mereça.
Não estava armada, nem precisou de proteção. Ela se defendeu tão naturalmente quanto àqueles cachos que desciam desenhando seu rosto desproporcionalmente belo.
Ficou feliz. Olhou-se no espelho e não enxergava nada além de sua defeituosa, mas beleza. Elevou-se, apaixonada por si mesmo. Ela não via mais ninguém, tudo e todos ao seu redor pareciam insignificantes.
Ele a viu de novo e disse: desculpe, mas você está linda. Ela sorriu e disse: estou cansada, vou embora.
Foi para casa e dormiu com os anéis que saíam de sua cabeça.
Linda. Era assim que estava e se sentia. Mas com muito medo daquilo tudo que vinha dela. Era natural, era ela. Tinha a perfeição da imperfeição. Leve, cacheada, simples mas emaranhada. Assim era.
Quem conseguiria derrubar aquela estátua? Assim foi ela. Entrou no lugar protegida por seus cachos castanhos.
Ele a avistou e disse: você tá engraçada. Ele nunca a havia visto assim. Tão solta, tão leve, tão cacheada e pensou o contrário. Pensou que estivesse armada. Será que ele foi tão cego de perceber que ela sempre foi assim? Ou foi ela que nunca se mostrou?
2 anos. Nada. Não pode ser ela. Como não, se ela nasceu assim?
Percebe quem merece. E só se deve mostrar a quem mereça.
Não estava armada, nem precisou de proteção. Ela se defendeu tão naturalmente quanto àqueles cachos que desciam desenhando seu rosto desproporcionalmente belo.
Ficou feliz. Olhou-se no espelho e não enxergava nada além de sua defeituosa, mas beleza. Elevou-se, apaixonada por si mesmo. Ela não via mais ninguém, tudo e todos ao seu redor pareciam insignificantes.
Ele a viu de novo e disse: desculpe, mas você está linda. Ela sorriu e disse: estou cansada, vou embora.
Foi para casa e dormiu com os anéis que saíam de sua cabeça.
Friday, November 23, 2007
O livro aberto
Ele começou a ler o livro e insistiu para que ela lesse também, ela não queria. Não que não gostasse de ler, ela gosta muito, mas estava cansada. Ele pediu tanto e ainda sugeriu que lessem juntos. Assim faziam nas noites, nas manhãs, fins-de-semana e até em algumas tardes. Realmente o livro era bom, ela se surpreendeu. Um dia ela chegou em casa e o pegou lendo o livro sozinho, pediu pra acompanhar e ele se negou, já estava muito na frente. Ela perdeu muitas partes e não conseguiu mais entender o enredo, ele se negou a contar pra ela e quando o fazia era de má vontade. Até que um dia ele disse: “Terminei o livro”, ela perguntou: “ mas você não vai me contar a história?”, ele preferiu não contar e levou o livro consigo. Ela agora fica imaginando possíveis finais pra essa história.
Thursday, November 22, 2007
Pulsão de morte
Era um piso preto e branco, da década de 50, muito charmoso combinava com a cadeira do barbeiro. Um ruído de máquina 3 e ela cai rapidamente com os tuchos de cabelo dele, e fica no chão misturada com toda a cabeleira dele e dos outros clientes. Em seguida o ajudante do barbeiro passa a vassoura. Ainda há tempo de pegar os cabelos, pra colar não, talvez guardar num saquinho, dentro de uma gaveta. Tentar resgatá-los. Todos dizem que vai crescer, mas não é a mesma coisa. O fio novo substitui o velho sem lhe fazer qualquer caso. Pronto. Agora ela está no lixo. Aquilo tudo lhe causa uma grande claustrofobia. Mal consegue respirar e nem é por causa do cheiro a que ela é tão sensível, é a escuridão mesmo. Ele sai do salão mais leve e fresco, disse que era por causa do calor. Talvez ela o sufocasse. Mas se o fazia não sentia, todo o calor que o tinha dado era nas horas a toa, roçando suas costas nuas na barriga dele, e sentindo ele apertá-la contra si.
Os cabelos dela? Estão cada vez maiores, ela diz que não vai cortar. Ela já cresceu, e suas madeixas também crescem todos os dias.
Os cabelos dela? Estão cada vez maiores, ela diz que não vai cortar. Ela já cresceu, e suas madeixas também crescem todos os dias.
Chez Carina
Minha casa da catarse.
Nem sempre quem entra em mim pede para entrar (nem pra sair). Aqui é público, qualquer um pode entrar.
Pode mexer em tudo até tirar as coisas do lugar, porque eu sei direitinho como deixei tudo da última vez. Talvez eu até goste da sua mudança, pode ser hoje ou daqui a 2 anos, não importa. Por mais que você mexa, a casa é minha.
Nem sempre quem entra em mim pede para entrar (nem pra sair). Aqui é público, qualquer um pode entrar.
Pode mexer em tudo até tirar as coisas do lugar, porque eu sei direitinho como deixei tudo da última vez. Talvez eu até goste da sua mudança, pode ser hoje ou daqui a 2 anos, não importa. Por mais que você mexa, a casa é minha.
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