Thursday, November 22, 2007

Pulsão de morte

Era um piso preto e branco, da década de 50, muito charmoso combinava com a cadeira do barbeiro. Um ruído de máquina 3 e ela cai rapidamente com os tuchos de cabelo dele, e fica no chão misturada com toda a cabeleira dele e dos outros clientes. Em seguida o ajudante do barbeiro passa a vassoura. Ainda há tempo de pegar os cabelos, pra colar não, talvez guardar num saquinho, dentro de uma gaveta. Tentar resgatá-los. Todos dizem que vai crescer, mas não é a mesma coisa. O fio novo substitui o velho sem lhe fazer qualquer caso. Pronto. Agora ela está no lixo. Aquilo tudo lhe causa uma grande claustrofobia. Mal consegue respirar e nem é por causa do cheiro a que ela é tão sensível, é a escuridão mesmo. Ele sai do salão mais leve e fresco, disse que era por causa do calor. Talvez ela o sufocasse. Mas se o fazia não sentia, todo o calor que o tinha dado era nas horas a toa, roçando suas costas nuas na barriga dele, e sentindo ele apertá-la contra si.

Os cabelos dela? Estão cada vez maiores, ela diz que não vai cortar. Ela já cresceu, e suas madeixas também crescem todos os dias.

1 comment:

cynthia said...

bem vinda!!!!!
mais diversão literária na minha vida!

bjs