(mais um de maio deste ano. êta mês bom pra escrever. acho que o frio faz refletir)
Eu pensei que ele nunca chegaria, enfim, assim sem falar nada, chegou nessa madrugada de maio. Ele. O frio, o anúncio do inverno. Me pegou de surpresa, acho que ele não sabia das minhas aulas de natação. Mas tudo bem, não foi tão ruim assim. Ele ficou na dele e nem me incomodou.
Como ele nunca vem sozinho, trouxe aquele azul que eu gosto tanto. Que dia diferente, pensei. Quando maio começa, sinto que uma porta é aberta, não sei se é porque é o mês que eu faço aniversário, ou é só a mudança do tempo que me traz algo novo. Mas hoje com certeza tem algo novo. Começo o dia ouvindo um lindo CD do Baden com o Grappelli, a melhor trilha para esse dia maravilhoso.
Sabe aquela sensação de intimidade que podemos ter com objetos, músicas, lugares, pessoas. Por exemplo, quando alguém fala para você: “Ei, ouvi um disco foda de um cara argentino, de tango...” – No meio da fala do seu amigo, você já sabe que ele vai falar Piazzolla e sente com um arzinho de superioridade, como se você e o Astor, já fossem íntimos de longa data. Sabe essa sensação? É isso que eu sinto com o frio, é como se eu o conhecesse mais e melhor do que todos. Como se ele me pertencesse. Ei, o frio é meu.
Tudo isso me leva para longe, para 10 anos atrás. Outono, Ohta-ku, Tóquio, discman, sagamichi, uniforme, cabelos úmidos, azul, muito azul, felicidade que vem de lugar nenhum, sem saber porque, metrô, meus 18 anos.
Voltando ao presente, uma vez ouvi dizer que sou uma pessoa de decisão. Vivo confusa, indecisa, as vezes até medrosa e quando tomo atitudes, acho que são de supetão, mas ao longo desses anos, vi que foram as melhores decisões e nem se elas fossem milimetricamente calculadas dariam tão certo.
Outro dia abri uma portinha do meu passado, mais por curiosidade do que por saudade. A princípio, me pareceu interessante ver como a vida caminhava por lá, as direções que tinha tomado. Aquela vida independente que corria sem mim. Depois de um tempo percebi que aquilo não fazia mais parte da minha vida. A caixa de Pandora tinha que ser fechada rapidamente, antes que espalhasse todo o mal novamente. Foi fechada e selada. Endereçada ao desavisado que queira abrir.
Desavisado é a palavra. Quando uma caixa chega até você, qual a primeira coisa que você pensa? 3 chances para advinhar. Já falou presente de cara, não é? Imaginei... Presente, com laços, embrulho bonito. Depois de aberta, não era aquilo que você tinha imaginado. A caixa está vazia. Não tem nada lá. E o nada te preenche com tudo que há de desagradável no mundo. Fica difícil tirar tudo isso de você depois, porque é como uma fumaça que te impregna todo.
Mas você pode fechar a caixinha. Tantas vezes quiser. Depois de um tempo você passa a receber caixas com laços dourados e já joga no lixo sem nem mesmo abrir.
Mas era do frio que eu estava falando, né? Pois bem. O dia está lindo, as caixas estão fechadas e o presente está aí.
Friday, November 30, 2007
Caracóis
(Na falta de coisa nova pra postar vai esse aqui de maio desse ano)
Linda. Era assim que estava e se sentia. Mas com muito medo daquilo tudo que vinha dela. Era natural, era ela. Tinha a perfeição da imperfeição. Leve, cacheada, simples mas emaranhada. Assim era.
Quem conseguiria derrubar aquela estátua? Assim foi ela. Entrou no lugar protegida por seus cachos castanhos.
Ele a avistou e disse: você tá engraçada. Ele nunca a havia visto assim. Tão solta, tão leve, tão cacheada e pensou o contrário. Pensou que estivesse armada. Será que ele foi tão cego de perceber que ela sempre foi assim? Ou foi ela que nunca se mostrou?
2 anos. Nada. Não pode ser ela. Como não, se ela nasceu assim?
Percebe quem merece. E só se deve mostrar a quem mereça.
Não estava armada, nem precisou de proteção. Ela se defendeu tão naturalmente quanto àqueles cachos que desciam desenhando seu rosto desproporcionalmente belo.
Ficou feliz. Olhou-se no espelho e não enxergava nada além de sua defeituosa, mas beleza. Elevou-se, apaixonada por si mesmo. Ela não via mais ninguém, tudo e todos ao seu redor pareciam insignificantes.
Ele a viu de novo e disse: desculpe, mas você está linda. Ela sorriu e disse: estou cansada, vou embora.
Foi para casa e dormiu com os anéis que saíam de sua cabeça.
Linda. Era assim que estava e se sentia. Mas com muito medo daquilo tudo que vinha dela. Era natural, era ela. Tinha a perfeição da imperfeição. Leve, cacheada, simples mas emaranhada. Assim era.
Quem conseguiria derrubar aquela estátua? Assim foi ela. Entrou no lugar protegida por seus cachos castanhos.
Ele a avistou e disse: você tá engraçada. Ele nunca a havia visto assim. Tão solta, tão leve, tão cacheada e pensou o contrário. Pensou que estivesse armada. Será que ele foi tão cego de perceber que ela sempre foi assim? Ou foi ela que nunca se mostrou?
2 anos. Nada. Não pode ser ela. Como não, se ela nasceu assim?
Percebe quem merece. E só se deve mostrar a quem mereça.
Não estava armada, nem precisou de proteção. Ela se defendeu tão naturalmente quanto àqueles cachos que desciam desenhando seu rosto desproporcionalmente belo.
Ficou feliz. Olhou-se no espelho e não enxergava nada além de sua defeituosa, mas beleza. Elevou-se, apaixonada por si mesmo. Ela não via mais ninguém, tudo e todos ao seu redor pareciam insignificantes.
Ele a viu de novo e disse: desculpe, mas você está linda. Ela sorriu e disse: estou cansada, vou embora.
Foi para casa e dormiu com os anéis que saíam de sua cabeça.
Friday, November 23, 2007
O livro aberto
Ele começou a ler o livro e insistiu para que ela lesse também, ela não queria. Não que não gostasse de ler, ela gosta muito, mas estava cansada. Ele pediu tanto e ainda sugeriu que lessem juntos. Assim faziam nas noites, nas manhãs, fins-de-semana e até em algumas tardes. Realmente o livro era bom, ela se surpreendeu. Um dia ela chegou em casa e o pegou lendo o livro sozinho, pediu pra acompanhar e ele se negou, já estava muito na frente. Ela perdeu muitas partes e não conseguiu mais entender o enredo, ele se negou a contar pra ela e quando o fazia era de má vontade. Até que um dia ele disse: “Terminei o livro”, ela perguntou: “ mas você não vai me contar a história?”, ele preferiu não contar e levou o livro consigo. Ela agora fica imaginando possíveis finais pra essa história.
Thursday, November 22, 2007
Pulsão de morte
Era um piso preto e branco, da década de 50, muito charmoso combinava com a cadeira do barbeiro. Um ruído de máquina 3 e ela cai rapidamente com os tuchos de cabelo dele, e fica no chão misturada com toda a cabeleira dele e dos outros clientes. Em seguida o ajudante do barbeiro passa a vassoura. Ainda há tempo de pegar os cabelos, pra colar não, talvez guardar num saquinho, dentro de uma gaveta. Tentar resgatá-los. Todos dizem que vai crescer, mas não é a mesma coisa. O fio novo substitui o velho sem lhe fazer qualquer caso. Pronto. Agora ela está no lixo. Aquilo tudo lhe causa uma grande claustrofobia. Mal consegue respirar e nem é por causa do cheiro a que ela é tão sensível, é a escuridão mesmo. Ele sai do salão mais leve e fresco, disse que era por causa do calor. Talvez ela o sufocasse. Mas se o fazia não sentia, todo o calor que o tinha dado era nas horas a toa, roçando suas costas nuas na barriga dele, e sentindo ele apertá-la contra si.
Os cabelos dela? Estão cada vez maiores, ela diz que não vai cortar. Ela já cresceu, e suas madeixas também crescem todos os dias.
Os cabelos dela? Estão cada vez maiores, ela diz que não vai cortar. Ela já cresceu, e suas madeixas também crescem todos os dias.
Chez Carina
Minha casa da catarse.
Nem sempre quem entra em mim pede para entrar (nem pra sair). Aqui é público, qualquer um pode entrar.
Pode mexer em tudo até tirar as coisas do lugar, porque eu sei direitinho como deixei tudo da última vez. Talvez eu até goste da sua mudança, pode ser hoje ou daqui a 2 anos, não importa. Por mais que você mexa, a casa é minha.
Nem sempre quem entra em mim pede para entrar (nem pra sair). Aqui é público, qualquer um pode entrar.
Pode mexer em tudo até tirar as coisas do lugar, porque eu sei direitinho como deixei tudo da última vez. Talvez eu até goste da sua mudança, pode ser hoje ou daqui a 2 anos, não importa. Por mais que você mexa, a casa é minha.
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