Ganhei um livro de uma amiga muito especial: Olhos azuis cabelos pretos da Marguerite Duras. Ainda estou lendo, sou lenta mesmo.
Na dedicatória minha amiga Lenise citou uma frase da Marguerite: "Não existe nada mais público que aquilo que é rigorosamente pessoal".
Valeu, Lerê!
Wednesday, December 22, 2010
Assinaturas
Eram dois livros iguais na estante. Um pertenceu ao meu pai e o outro a minha mãe. O que foi do meu pai estava mais gasto. O da minha mãe, estava melhor, para um livro que era de 74. Levei-o para ler no avião. Eram pequenos contos, ideal para uma viagem rápida. Ao abrir o livro lá estava ela: perfeita, rígida, firme, opressora, a assinatura da minha mãe. Sempre tive medo da letra dela. Letra de professora. Letra do tipo mais rigososo de professora: da mãe-professora. Até hoje quando vejo a letra perfeita em recados na geladeira sinto um pequeno temor da infância me rodeando como um fantasma que mesmo morto tem existência.
Pego agora o livro do meu pai e lá está seu nome assinado. Vejo a delicadeza, era como se ele estivesse escrito à pluma. De tão leve, a caneta bic quase fica apagada. Ele não usa força para escrever, nem para viver. Não é uma letra bonita como a da minha mãe, mas é macia. A ausência de rigidez a deixa leve, flutuando na página, ao contrário da assinatura da minha mãe, que está cravada no livro e em mim.
Pego agora o livro do meu pai e lá está seu nome assinado. Vejo a delicadeza, era como se ele estivesse escrito à pluma. De tão leve, a caneta bic quase fica apagada. Ele não usa força para escrever, nem para viver. Não é uma letra bonita como a da minha mãe, mas é macia. A ausência de rigidez a deixa leve, flutuando na página, ao contrário da assinatura da minha mãe, que está cravada no livro e em mim.
Tuesday, November 30, 2010
Vinho, kanji e telhado
Ou foi o vinho ou foi a companhia dele que me deixou tão relaxada como naquela noite. Não sou muito de tagarelar, mas algum dos componentes acima fez com que eu falasse sem parar. Ele só fazia perguntas e me ouvia com atenção, acho que isso me encorajava ainda mais a falar e falar.
Também não me recordo como chegamos ao assunto Japão. Ele deve ter me perguntado sobre os alfabetos. Eu havia morado em Tóquio por um ano - de intercâmbio - e ainda lembrava como escrever uma coisa ou outra em Kanji (aquele alfabeto que parece desenho).
Os desenhos, na verdade, são símbolos que representam uma ideia. Escrevi amor em kanji para ele. Foi quando me lembrei da minha professora de japonês, Kawamura sensei.
Ela era a enfermeira do colégio em que eu estudava. Sempre me observava pelos cantos com olheiras e muito sonolenta. Então um dia ela me perguntou bem incisiva:
- E essas olheiras? Você dorme tarde ou usa drogas?
Achei engraçado e expliquei:
- O sono é porque eu não entendo japonês nas aulas, aí tenho vontade de dormir. As olheiras são herança da família italiana da minha mãe.
Ela sorriu e prometeu que iria me ajudar com o japonês. Conversou com meus professores, com o diretor do colégio e remodelou toda a minha grade.
Lembro da Kawamura sensei me “alfabetizando”.
- Tá vendo esse sinal que parece um telhado e fica sempre em cima do Kanji? Isso significa proteção. Escreva-o cem vezes para não esquecer e depois me mostra aqui.
- Assim tá bom, sensei?
- Ótimo, Carina-chan!
Esse tal telhado ficou escondido em algum canto da minha memória, mas não é que reapareceu aquela noite? Quando escrevi amor para ele, notei que o telhado protegia outro símbolo, o do coração.
Todo japonês deve saber disso, mas fui perceber só 13 anos depois que amor é o coração protegido.
Também não me recordo como chegamos ao assunto Japão. Ele deve ter me perguntado sobre os alfabetos. Eu havia morado em Tóquio por um ano - de intercâmbio - e ainda lembrava como escrever uma coisa ou outra em Kanji (aquele alfabeto que parece desenho).
Os desenhos, na verdade, são símbolos que representam uma ideia. Escrevi amor em kanji para ele. Foi quando me lembrei da minha professora de japonês, Kawamura sensei.
Ela era a enfermeira do colégio em que eu estudava. Sempre me observava pelos cantos com olheiras e muito sonolenta. Então um dia ela me perguntou bem incisiva:
- E essas olheiras? Você dorme tarde ou usa drogas?
Achei engraçado e expliquei:
- O sono é porque eu não entendo japonês nas aulas, aí tenho vontade de dormir. As olheiras são herança da família italiana da minha mãe.
Ela sorriu e prometeu que iria me ajudar com o japonês. Conversou com meus professores, com o diretor do colégio e remodelou toda a minha grade.
Lembro da Kawamura sensei me “alfabetizando”.
- Tá vendo esse sinal que parece um telhado e fica sempre em cima do Kanji? Isso significa proteção. Escreva-o cem vezes para não esquecer e depois me mostra aqui.
- Assim tá bom, sensei?
- Ótimo, Carina-chan!
Esse tal telhado ficou escondido em algum canto da minha memória, mas não é que reapareceu aquela noite? Quando escrevi amor para ele, notei que o telhado protegia outro símbolo, o do coração.
Todo japonês deve saber disso, mas fui perceber só 13 anos depois que amor é o coração protegido.
Wednesday, November 17, 2010
Vestindo a camisa
Há cinco anos eu abasteço o carro no mesmo posto. Já conheço todos os frentistas. Aquele moreninho de boné e olhar tímido era novo. Pelo nervosismo dele, devia ser o primeiro dia.
- Bom dia, dona, é... vai ser o que? – falou olhando pra baixo
- Bom dia! Gasolina comum. Pode completar.
- É... cartão ou dinheiro?
- Cartão.
- Confere na bomba então, dona.
Ele foi pegar a máquina de passar cartão e voltou com uma nova, toda modernosa, devia ser dessas Cielo.
- Nossa, que máquina linda! Muito chique, hein, menino?
O frentista continou olhando pra baixo mas sorria orgulhoso. Ele disse na maior inocência:
- Ô dona, muito obrigado.
Foi seu primeiro elogio no trabalho novo.
- Bom dia, dona, é... vai ser o que? – falou olhando pra baixo
- Bom dia! Gasolina comum. Pode completar.
- É... cartão ou dinheiro?
- Cartão.
- Confere na bomba então, dona.
Ele foi pegar a máquina de passar cartão e voltou com uma nova, toda modernosa, devia ser dessas Cielo.
- Nossa, que máquina linda! Muito chique, hein, menino?
O frentista continou olhando pra baixo mas sorria orgulhoso. Ele disse na maior inocência:
- Ô dona, muito obrigado.
Foi seu primeiro elogio no trabalho novo.
Friday, November 5, 2010
Ao meu alcance
Nem é por querer. Às vezes a minha unha quebra do lado bem embaixo, aí eu puxo a ponta pra fora com os dentes. O dedo fica na carne viva. Até chega a sangrar. Dói, fica latejando, mas é uma dor que eu gosto. Parece que meu coração fica batendo na pontinha do dedo.
Monday, October 25, 2010
Mágoas são para humanos
Sabe o que foi lindo mesmo?
Foi o dia em que eu pisei na patinha do meu cachorro.
Explicando-me melhor: Veludo, o cão em questão era apenas um filhote de 2 meses. Estava lá em casa há 3 semanas e andava atrás de todo mundo. Atrás mesmo. Tinha que ter cuidado pra não pisar no pobrezinho. Ele ainda estava na fase de chorar a noite: "cadê a minha mãe"? E se sentia mais seguro quando esses bípedes que não latem e nem se cheiram estavam por perto. Por isso ele andava colado na gente.
Um dia me descuidei e pisei sem querer naquela patinha minúscula. Foi um aperto no meu coração seguido de um berro do Veludo e uma mordida no meu pé. Mordida forte, que claro que não doeu como a pisada, o Veludo nem dente direito tinha. Mas dava pra sentir a indignação dele. Instintiva ou não, preferi entender a atitude do filhote de daschund como sinal de maturidade. Como se ele me disesse, "você pisou no meu calo (literalmente), vamos resolver agora", tanto é que depois da mordida, ele já era todo amores de novo, só que nunca mais andou atrás de mim.
Foi o dia em que eu pisei na patinha do meu cachorro.
Explicando-me melhor: Veludo, o cão em questão era apenas um filhote de 2 meses. Estava lá em casa há 3 semanas e andava atrás de todo mundo. Atrás mesmo. Tinha que ter cuidado pra não pisar no pobrezinho. Ele ainda estava na fase de chorar a noite: "cadê a minha mãe"? E se sentia mais seguro quando esses bípedes que não latem e nem se cheiram estavam por perto. Por isso ele andava colado na gente.
Um dia me descuidei e pisei sem querer naquela patinha minúscula. Foi um aperto no meu coração seguido de um berro do Veludo e uma mordida no meu pé. Mordida forte, que claro que não doeu como a pisada, o Veludo nem dente direito tinha. Mas dava pra sentir a indignação dele. Instintiva ou não, preferi entender a atitude do filhote de daschund como sinal de maturidade. Como se ele me disesse, "você pisou no meu calo (literalmente), vamos resolver agora", tanto é que depois da mordida, ele já era todo amores de novo, só que nunca mais andou atrás de mim.
Voilà
Atendendo a pedidos, aqui vai o link de álbuns franceses.
http://www.taringa.net/posts/musica/2413565/Megapost-Musica-en-Frances-Segunda-Parte.html
Tem muita coisa ruim, mas tem coisas ótimas também. :)
Bisous.
http://www.taringa.net/posts/musica/2413565/Megapost-Musica-en-Frances-Segunda-Parte.html
Tem muita coisa ruim, mas tem coisas ótimas também. :)
Bisous.
Thursday, October 7, 2010
My personal google
Seu Vicente nunca quis aprender a mexer no computador. “Nunca quis” é meio exagero, porque ele tentou muitas vezes e desistiu. Ele até sabe usar um pouco o Google maps, ferramenta que achou interessantíssima por sinal.
Sempre falo com ele, olha no Google, papai. Sei lá se ele olha ou não, o fato é que o Seu Vicente é um Google espontâneo, muito confiável, e muito mais simpático. Espontâneo porque me passa informações sem que eu esteja procurando, e não são poucas. Confiável, porque aquele lá não tem nada de wikipedia, fala e cita as fontes. Simpático porque... já pensou em conversar com o Google?
- E aí, Google, beleza? Nossa, cara, tô precisando saber umas coisinhas...
- Fala, Carina, como é que você tá hoje? Resolveu aqueles problemas?
Ok, acredito que haveria pessoas que não gostariam de um Google conversador, mas tudo bem. Eu sou meio carente, gosto que conversem comigo e perguntem da minha vida.
Voltando ao meu pai (dos burros), hoje de manhã, enquanto eu comia, falávamos um pouco de portunhol, frantuguês e italiguês como de costume, aí ele me ensinou uma coisa que pode ser completamente desnecessária para minha vida, mas que eu gostei tanto de saber!
Quase todas as palavras começadas com Al e algumas com A da língua portuguesa vêm do árabe! Olha que interessante. Aí, claro, eu tive que testá-lo.
- Álcool? Alfinete? Albergue? Alcova? Almoço? Alface? Almeirão? Almoxarifado? Alcaparra? Alcade? Almofada? Alpargatas? Alpendre? Arroz? Açúcar? Azeitona? etc? Almirante? – Essa ele não tinha certeza, abacate também ele não sabia (vou olhar no Google depois).
Enfim, falei tanta palavra começada com A que cheguei atrasada no trabalho como de costume.
Depois disso fiquei pensando como é bom ter esse Google em casa. Lembrei de um texto do Espalitando o Dente, em que ele fala que visita à família não pode durar mais do que 20 minutos. Eu entendo isso e concordo em partes. Mas para visitar a biblioteca chamada Seu Vicente tem que ser mais tempo. Tem que ser a vida toda e ainda é pouco. Me lembrei também do livro infinito de Borges. Não seria toda pessoa um livro infinito? As pessoas têm começo e fim, mas o que elas sabem não. Você pode viver mil anos que nunca vai conseguir saber tudo o que outra pessoa sabe. É como querer saber tudo que tem no Google, o verdadeiro.
Sempre falo com ele, olha no Google, papai. Sei lá se ele olha ou não, o fato é que o Seu Vicente é um Google espontâneo, muito confiável, e muito mais simpático. Espontâneo porque me passa informações sem que eu esteja procurando, e não são poucas. Confiável, porque aquele lá não tem nada de wikipedia, fala e cita as fontes. Simpático porque... já pensou em conversar com o Google?
- E aí, Google, beleza? Nossa, cara, tô precisando saber umas coisinhas...
- Fala, Carina, como é que você tá hoje? Resolveu aqueles problemas?
Ok, acredito que haveria pessoas que não gostariam de um Google conversador, mas tudo bem. Eu sou meio carente, gosto que conversem comigo e perguntem da minha vida.
Voltando ao meu pai (dos burros), hoje de manhã, enquanto eu comia, falávamos um pouco de portunhol, frantuguês e italiguês como de costume, aí ele me ensinou uma coisa que pode ser completamente desnecessária para minha vida, mas que eu gostei tanto de saber!
Quase todas as palavras começadas com Al e algumas com A da língua portuguesa vêm do árabe! Olha que interessante. Aí, claro, eu tive que testá-lo.
- Álcool? Alfinete? Albergue? Alcova? Almoço? Alface? Almeirão? Almoxarifado? Alcaparra? Alcade? Almofada? Alpargatas? Alpendre? Arroz? Açúcar? Azeitona? etc? Almirante? – Essa ele não tinha certeza, abacate também ele não sabia (vou olhar no Google depois).
Enfim, falei tanta palavra começada com A que cheguei atrasada no trabalho como de costume.
Depois disso fiquei pensando como é bom ter esse Google em casa. Lembrei de um texto do Espalitando o Dente, em que ele fala que visita à família não pode durar mais do que 20 minutos. Eu entendo isso e concordo em partes. Mas para visitar a biblioteca chamada Seu Vicente tem que ser mais tempo. Tem que ser a vida toda e ainda é pouco. Me lembrei também do livro infinito de Borges. Não seria toda pessoa um livro infinito? As pessoas têm começo e fim, mas o que elas sabem não. Você pode viver mil anos que nunca vai conseguir saber tudo o que outra pessoa sabe. É como querer saber tudo que tem no Google, o verdadeiro.
Tuesday, September 28, 2010
Só enquanto chove
Saiam todos. Não quero ninguém aqui. Entendi o significado da chuva. É hora de ficar só.
Só escutando os pingos batendo contra o vidro. Nem a minha música preferida consegue soar tão linda quanto a chuva à noite.
De dia é muito barulho, mas à noite é uma sinfonia com solos de pneus roçando as poças d'águas do asfalto. Sozinha consigo escutar tudo isso.
Consigo escutar também o meu desejo que me pede para ficar só. Queria ficar assim para sempre. Mas como diz dona Glícia:
- Loucura mesmo é ficar só.
Só escutando os pingos batendo contra o vidro. Nem a minha música preferida consegue soar tão linda quanto a chuva à noite.
De dia é muito barulho, mas à noite é uma sinfonia com solos de pneus roçando as poças d'águas do asfalto. Sozinha consigo escutar tudo isso.
Consigo escutar também o meu desejo que me pede para ficar só. Queria ficar assim para sempre. Mas como diz dona Glícia:
- Loucura mesmo é ficar só.
Monday, September 13, 2010
Azul cor de unha
A manhã de céu azul era um convite para sair de casa e fazer uma boa caminhada com a minha irmã. Não andamos nem mais que 200 metros e vimos aquele senhor de cabeça branca sentado no banquinho, olhando fixamente para lagoa. Pensei ter visto meu pai. Chegamos mais perto e era ele mesmo. Pegamos-no de surpresa nos traindo com a tristeza e a solidão.
- O que faz aí, papai?
- Vim pegar um solzinho, tá frio lá em casa - e sorria escondendo a verdade dos seus olhos.
- A lagoa tá feia, não tá?
- Não. Tô achando a vista bonita. Aqui é muito bonito.
- Bem, acho que tem uns lugares melhores, antes das capivaras, vai lá dar uma olhada, agora tenho horário no salão.
- Ah, vai fazer as unhas? e olhou para as minhas mãos pintadas com esmalte azul.
- Aham, vou.
- Passa vermelho dessa vez. Não me entenda mal, eu adoro azul, mas o azul fica mais bonito em outras coisas que não unhas.
- Pode deixar, papai - eu ri - Vou passar um rosa bem feminino, combinado?
Deixei meu pai com a minha irmã e fui ao salão. Quando voltei, os olhos dele brilhavam. Ele tinha conhecido três aeromodelistas e estava impressionando com os pequenos aviões. Já sabia de tudo, das baterias, do peso, do material de que eram feitos. Ele achou incrível que aqueles "brinquedos" pudessem voar. Acho que ele conseguiu voar também. Para bem longe. E quando voltou da pequena viagem, estava melhor. Dava para ver no seu sorriso límpido que não tinha nada a esconder.
Ele precisou de tão pouco. Só de um azul cor de céu.
- O que faz aí, papai?
- Vim pegar um solzinho, tá frio lá em casa - e sorria escondendo a verdade dos seus olhos.
- A lagoa tá feia, não tá?
- Não. Tô achando a vista bonita. Aqui é muito bonito.
- Bem, acho que tem uns lugares melhores, antes das capivaras, vai lá dar uma olhada, agora tenho horário no salão.
- Ah, vai fazer as unhas? e olhou para as minhas mãos pintadas com esmalte azul.
- Aham, vou.
- Passa vermelho dessa vez. Não me entenda mal, eu adoro azul, mas o azul fica mais bonito em outras coisas que não unhas.
- Pode deixar, papai - eu ri - Vou passar um rosa bem feminino, combinado?
Deixei meu pai com a minha irmã e fui ao salão. Quando voltei, os olhos dele brilhavam. Ele tinha conhecido três aeromodelistas e estava impressionando com os pequenos aviões. Já sabia de tudo, das baterias, do peso, do material de que eram feitos. Ele achou incrível que aqueles "brinquedos" pudessem voar. Acho que ele conseguiu voar também. Para bem longe. E quando voltou da pequena viagem, estava melhor. Dava para ver no seu sorriso límpido que não tinha nada a esconder.
Ele precisou de tão pouco. Só de um azul cor de céu.
Monday, August 30, 2010
Café forte pra acordar
Acordou sem saber aonde estava, o que é bastante comum quando se está viajando há muito tempo. Viu os lençóis pretos e ao lado o moço loiro dormindo de boca aberta. Lembrou da noite passada em flashes. As risadas, as piadinhas, as brincadeiras...
Ela mexeu um pouco para que ele se despertasse “naturalmente”.
- Bonjour – disse ele com a voz de sono e os olhos meio fechados. Ele era carioca, mas seu pai, francês. Falava muito bem a língua e ela estava aprendendo, apesar de que, bêbada, falasse melhor.
Ficaram mais um pouco na cama e ela ia lembrando de como tinha sido. A cantada dele, o primeiro beijo...
- Se você quiser pode tomar um banho, pego uma toalha para você...- e interrompeu os pensamentos dela.
- Ah, vou querer sim – ela respondeu imaginando como seria o dia dos dois e tomou banho, explorando os shampoos e os condionadores de marcas que nunca tinha visto em um idioma que não entendia muito bem.
Chegou no quarto enrolada na toalha e ele foi logo lhe avisando:
- Olha, sem querer ser chato mas já sendo, vou ter que te pedir pra sair, porque tenho que trabalhar.
Por essa ela não esperava, vestiu a sua cara de pau e disse:
- Tudo bem, mas e o meu café-da-manhã?
- Sabe o que que é? Não tive tempo de fazer compras essa semana e a minha geladeira está vazia.
- Ah...
Dessa vez vestiu foi a roupa da noite anterior e saiu. Por sorte tinha trazido o mapa do metrô. Andando ao meio dia com aquele salto alto, meia calça preta e vestido ela sentiu uma certa vergonha, pensava se as pessoas achariam que ela era uma puta. Sempre tinha essa sensação quando usava a roupa da noite anterior.
Chegou no metrô. Depois que a ideia de “acham que sou puta ou não?” saiu da sua cabeça pensou na falta de educação do seu anfitrião.
- Porra! Nem um mísero pão de café-da-manhã? O cara me come a noite toda e de manhã não me dá nada pra comer? – o trocadilho era inevitável, mesmo sentindo seu estômago e a sua raiva se corroendo em ácido gástrico.
Depois desse evento, ela se tornou militante do café-da-manhã do dia seguinte. Escreveu um manifesto para todos os seus amigos. Arrumou um bando de pessoas prol do desjejum. E muita gente aderiu à causa.
Passou muito tempo cultivando o ódio contra os desprovidos de geladeira cheia, quando um dia leu no Livro do riso e do esquecimento do Milan Kundera:
“Oh, amantes, sejam prudentes nesses perigosos primeiros dias! Se levarem
para o outro o café-da-manhã na cama, terão de levá-lo para sempre,
se não quiserem ser acusados de desamor e de traição."
Aquela revolta toda contra os desertores da refeição matinal desabou na frente dos seus olhos, porque percebeu que café-da-manhã tinha um significado maior do que a primeira refeição do dia. O desjejum significava afeto, atenção, carinho, algo que um amor fast food não é capaz de dar. Ela estava procurando amor no restaurante errado.
Ela mexeu um pouco para que ele se despertasse “naturalmente”.
- Bonjour – disse ele com a voz de sono e os olhos meio fechados. Ele era carioca, mas seu pai, francês. Falava muito bem a língua e ela estava aprendendo, apesar de que, bêbada, falasse melhor.
Ficaram mais um pouco na cama e ela ia lembrando de como tinha sido. A cantada dele, o primeiro beijo...
- Se você quiser pode tomar um banho, pego uma toalha para você...- e interrompeu os pensamentos dela.
- Ah, vou querer sim – ela respondeu imaginando como seria o dia dos dois e tomou banho, explorando os shampoos e os condionadores de marcas que nunca tinha visto em um idioma que não entendia muito bem.
Chegou no quarto enrolada na toalha e ele foi logo lhe avisando:
- Olha, sem querer ser chato mas já sendo, vou ter que te pedir pra sair, porque tenho que trabalhar.
Por essa ela não esperava, vestiu a sua cara de pau e disse:
- Tudo bem, mas e o meu café-da-manhã?
- Sabe o que que é? Não tive tempo de fazer compras essa semana e a minha geladeira está vazia.
- Ah...
Dessa vez vestiu foi a roupa da noite anterior e saiu. Por sorte tinha trazido o mapa do metrô. Andando ao meio dia com aquele salto alto, meia calça preta e vestido ela sentiu uma certa vergonha, pensava se as pessoas achariam que ela era uma puta. Sempre tinha essa sensação quando usava a roupa da noite anterior.
Chegou no metrô. Depois que a ideia de “acham que sou puta ou não?” saiu da sua cabeça pensou na falta de educação do seu anfitrião.
- Porra! Nem um mísero pão de café-da-manhã? O cara me come a noite toda e de manhã não me dá nada pra comer? – o trocadilho era inevitável, mesmo sentindo seu estômago e a sua raiva se corroendo em ácido gástrico.
Depois desse evento, ela se tornou militante do café-da-manhã do dia seguinte. Escreveu um manifesto para todos os seus amigos. Arrumou um bando de pessoas prol do desjejum. E muita gente aderiu à causa.
Passou muito tempo cultivando o ódio contra os desprovidos de geladeira cheia, quando um dia leu no Livro do riso e do esquecimento do Milan Kundera:
“Oh, amantes, sejam prudentes nesses perigosos primeiros dias! Se levarem
para o outro o café-da-manhã na cama, terão de levá-lo para sempre,
se não quiserem ser acusados de desamor e de traição."
Aquela revolta toda contra os desertores da refeição matinal desabou na frente dos seus olhos, porque percebeu que café-da-manhã tinha um significado maior do que a primeira refeição do dia. O desjejum significava afeto, atenção, carinho, algo que um amor fast food não é capaz de dar. Ela estava procurando amor no restaurante errado.
Monday, August 16, 2010
Era pra ser melhor
- Eu paro de chorar se você fizer parar de chover.
- Ok. Você venceu. Mandioca frita com carne de sol.
- Ok. Você venceu. Mandioca frita com carne de sol.
Sunday, August 1, 2010
Perdão por te profanar, JL.
Borges quase nunca falava de amor, se é que já falou alguma vez. Mas eu, ao contrário não sei falar de outra coisa (pobre ignorante). Não revire em seu túmulo, caro Jorge Luís, mas queria versar sobre algo que você já escreveu adaptando para a (total falta de) razão da minha vida: amar.
Amo como uma imortal, porque sei que o amor é mortal.
Amo como uma imortal, porque sei que o amor é mortal.
Sunday, June 27, 2010
Friday, June 18, 2010
Corro demais
Falei aquele dia para a gente desalerar. Mas não sei nem parar nos sinais vermelhos. Ando apressada, vivendo todos os dias a véspera da minha morte. Não é culpa sua. Nem minha. É que não sei andar devagar, tentei aprender mas falhei. Talvez o tempo me ensine, ele é bom professor. Enquanto isso, "eu corro demais, corro demais só pra te ver meu bem."*
*Créditos: Rei
*Créditos: Rei
Thursday, June 10, 2010
Deixa...
Depois de meses sem notícias dele, ela se pegou pensando naquele nariz. Gostava de narizes esquisitos. Não se lembrava ao certo como ele era, só como se movimentava, tinha um jeito brusco de beija-flor.
Reviu suas fotos. Aqueles momentos congelados por uma digital não eram ele. Não tinham voz, nem cheiro. Por mais que doesse a saudade, não queria se livrar dela. Já vivia com essa nostalgia. A falta dele era agora parte dela. Foi assim que decidiu a não lutar mais contra isso. Não dá para vencer a si mesmo, muito menos com pequenas trapaças.
Reviu suas fotos. Aqueles momentos congelados por uma digital não eram ele. Não tinham voz, nem cheiro. Por mais que doesse a saudade, não queria se livrar dela. Já vivia com essa nostalgia. A falta dele era agora parte dela. Foi assim que decidiu a não lutar mais contra isso. Não dá para vencer a si mesmo, muito menos com pequenas trapaças.
Tuesday, June 8, 2010
Monday, May 31, 2010
Órfã
Estava tão apegada ao livro que começara a ler dois meses antes, que ao chegar ao final, tive que ler os agradecimentos na esperança de prolongar meus últimos momentos com ele.
Fechei a contra capa. Agora olho fixamente para a estante de livros. Dezenas deles me olham de volta esperando a sua vez.
Terminar um livro é morrer um pouco. Não é fácil despedir-se daqueles personagens que passam pelas nossas vidas traduzindo-nos em linhas nunca antes lidas, mas de súbito reconhecidas.
Agora é luto, que passa com outra história para renascer e morrer de novo.
Ps: Obrigada, amigo Tapioca, pelo presente de luto.
Fechei a contra capa. Agora olho fixamente para a estante de livros. Dezenas deles me olham de volta esperando a sua vez.
Terminar um livro é morrer um pouco. Não é fácil despedir-se daqueles personagens que passam pelas nossas vidas traduzindo-nos em linhas nunca antes lidas, mas de súbito reconhecidas.
Agora é luto, que passa com outra história para renascer e morrer de novo.
Ps: Obrigada, amigo Tapioca, pelo presente de luto.
Tuesday, May 11, 2010
C'est la vie
Fazia sol e embaixo do pé de mexerica havia uma sombra gostosa. Peguei uma toalha velha, meu livro e deitei debaixo da "mexeriqueira". O livro estava bom, mas a grama também. Tão confortável que dormi.
Acordei com o sol queimando meus pés. Estiquei a coluna com preguiça e continuei lá parada, deitada de bruço observando só o que o meu campo de visão permitia.
Primeiro vi uma formiga grande, daquelas de bunda vermelha, ela se aproximava de mim com pressa. Andava desajeitada e feia, contornando a topografia do terreno. Logo depois apareceu um passarinho branco de cabeça preta, tão elegante que parecia dançar balé. Ele dava passos curtos sem perder a postura. Era bom observar aquela ave. Era leve. Acho que poderia ficar lá o dia todo só vendo ele se mover com graça. Depois de alguns minutos de contemplação senti uma picada no pé. A formiga me picou.
Acordei com o sol queimando meus pés. Estiquei a coluna com preguiça e continuei lá parada, deitada de bruço observando só o que o meu campo de visão permitia.
Primeiro vi uma formiga grande, daquelas de bunda vermelha, ela se aproximava de mim com pressa. Andava desajeitada e feia, contornando a topografia do terreno. Logo depois apareceu um passarinho branco de cabeça preta, tão elegante que parecia dançar balé. Ele dava passos curtos sem perder a postura. Era bom observar aquela ave. Era leve. Acho que poderia ficar lá o dia todo só vendo ele se mover com graça. Depois de alguns minutos de contemplação senti uma picada no pé. A formiga me picou.
Thursday, April 29, 2010
Abaixo a ditatura do final triste
Não sei quando foi secretamente institucionalizado que para um filme ser bom o final tinha que ser triste. Obviamente estou exagerando na frase acima. Mas há tempos que os filmes que fazem chorar ou que mostram a “verdade” sobre a natureza humana são os que mais ganham prêmios em todo mundo.
Famílias desfuncionais, holocausto, guerra, ditadura, traições e doenças terminais são os preferidos de todo e qualquer festival.
Gosto muito destes tipos de filme, antes que me acusem de Poliana. Se a história é bem contada ou tem poesia, para mim está ótimo. Mas nesta busca pelo realismo, ou pela “a vida como ela é” perdeu-se algo muito importante: a vida também pode ser bonita, as pessoas podem ser boas e os finais podem ser felizes.
Um parêntesis: quando falo de final feliz, não me refiro àquela fórmula hollywoodiana de romances e comédias românticas em que o fim é advinhando no início, quiçá no cartaz, tamanha a previsibilidade.Fecha parêntesis.
Claro que o final mor - a morte - é triste. Mas dentro da vida de uma pessoa existem muitos momentos alegres. Como é bom ver um momento desses na tela dentro de uma hora e meia ou mais de duração. Uma história que acaba enquanto os personagens estão bem. Pode até ser que depois dos créditos um personagem traia o outro, ou alguém contraia uma doença fatal. Não quero saber. Quero ir para casa com aquele momento emoldurado em uma hora e meia ou mais de duração.
Escrevi esse texto anterior inspirada pelo último filme que vi: O segredo dos seus olhos, do argentino Juan José Campanella.
Famílias desfuncionais, holocausto, guerra, ditadura, traições e doenças terminais são os preferidos de todo e qualquer festival.
Gosto muito destes tipos de filme, antes que me acusem de Poliana. Se a história é bem contada ou tem poesia, para mim está ótimo. Mas nesta busca pelo realismo, ou pela “a vida como ela é” perdeu-se algo muito importante: a vida também pode ser bonita, as pessoas podem ser boas e os finais podem ser felizes.
Um parêntesis: quando falo de final feliz, não me refiro àquela fórmula hollywoodiana de romances e comédias românticas em que o fim é advinhando no início, quiçá no cartaz, tamanha a previsibilidade.Fecha parêntesis.
Claro que o final mor - a morte - é triste. Mas dentro da vida de uma pessoa existem muitos momentos alegres. Como é bom ver um momento desses na tela dentro de uma hora e meia ou mais de duração. Uma história que acaba enquanto os personagens estão bem. Pode até ser que depois dos créditos um personagem traia o outro, ou alguém contraia uma doença fatal. Não quero saber. Quero ir para casa com aquele momento emoldurado em uma hora e meia ou mais de duração.
Escrevi esse texto anterior inspirada pelo último filme que vi: O segredo dos seus olhos, do argentino Juan José Campanella.
Tuesday, April 13, 2010
O vazio existencial entre o almoço e o lanche
Entre 4h e 4h30 ela sempre tem ataque de ansiedade. Bate o pé sentada na cadeira. Olha para o relógio. Vê se tem alguém comendo biscoito ao seu lado. Quer ficar em pé, ir até a cozinha tomar um chá, mas não faz nada disso. Espera 4h31 chegar.
Wednesday, April 7, 2010
Variação das folhas de outono
Minha cabeça transbordava melancolia, estava chegando em casa quando começou a tocar Black Trombone do Serge Gainsbourg no rádio. As notas tristes do trombone sonavam com o meu estado. Escutei prestando atenção em cada acorde e palavra. Black trombone, monotone, c’est l’automne de ma vie. É o outono da minha vida... Não sei o que Gainsbourg quis dizer com isso. Mas me senti dentro do outono da minha vida. Aquela estação fria e desfolhada. Monótona. Monotone. Nunca tinha pensado nessa palavra ali no meio da música. Quando ele a cantava, para mim estava se referindo a um “mono tom”, um som sem variação que saía do Black trombone. Foi aí que percebi a origem de monotonia (da palavra e da minha). E isso serve para o “mono tom” das folhas secas de outono.
Tuesday, March 16, 2010
Euphémisme
Quando eu falo que francês é o idioma mais lindo ninguém acredita, né?
Ok, mesmo que não seja, olha que eu aprendi ontem na aula. Pinta, em francês, é grains de beauté, que traduzido ao pé da letra é grãos de beleza. Ah! Tem coisa “mar” linda que isso? Só se for pernambuquês.
Ok, mesmo que não seja, olha que eu aprendi ontem na aula. Pinta, em francês, é grains de beauté, que traduzido ao pé da letra é grãos de beleza. Ah! Tem coisa “mar” linda que isso? Só se for pernambuquês.
Wednesday, March 3, 2010
A dança da solitária
A música estava ótima. Sentia o meu corpo pingando dentro do vestido, não conseguia parar de dançar nem por um minuto. O cara que eu acabara de conhecer já estava de olho, o que me fazia afastar mais dele. Eu só via o momento que ele ia me tirar para dançar. Dava para ver a sua sombra se aproximando. Pronto, pegou-me pelo braço, pôs a mão na cintura e começou.
Todo o meu rebolado sumiu. Não tem jeito. Não sei dançar acompanhada. Só danço só. A música ia rolando e eu tive que me desculpar, olhe, só danço só.
Já tentei mas não consigo, por mais que eu goste de música para dançar juntinho, não dou conta.
E por mais que eu goste de amar não sei ficar junto. Falta-me o jogo de cintura, falta deixar-me levar, falta olhar nos olhos e não para o chão. Falta a confiança. Aprender que pisar no pé é normal e não é falta grave.
Todo o meu rebolado sumiu. Não tem jeito. Não sei dançar acompanhada. Só danço só. A música ia rolando e eu tive que me desculpar, olhe, só danço só.
Já tentei mas não consigo, por mais que eu goste de música para dançar juntinho, não dou conta.
E por mais que eu goste de amar não sei ficar junto. Falta-me o jogo de cintura, falta deixar-me levar, falta olhar nos olhos e não para o chão. Falta a confiança. Aprender que pisar no pé é normal e não é falta grave.
Tuesday, March 2, 2010
Por qué tanto perderse?
Nas ruas a arquitetura que faz andar até doer as pernas.
Becos misteriosos de onde saem outras línguas
Ladrões de bolsas, gritaria
Beleza gótica e também sombria
A noite apressada que chega antes do sol se por
E preguiçosa, que só acaba muito depois que o sol nasceu
Barcelona chora suas pessoas sozinhas
Faz festa todos os dias para abafar os lamentos
Se acorda, se vive, se come, se fode
Buenos dias y adiós.
Na cidade dos que querem se encontrar
Quem sabe em uma de suas esquinas densas e escuras?
Não se sabe o que se procura
Espera-se o acaso
Vão-se embora
Os que ficam é por ilusão
Porque na rua é férias
Todos são passageiros
Vêm e se vão.
Becos misteriosos de onde saem outras línguas
Ladrões de bolsas, gritaria
Beleza gótica e também sombria
A noite apressada que chega antes do sol se por
E preguiçosa, que só acaba muito depois que o sol nasceu
Barcelona chora suas pessoas sozinhas
Faz festa todos os dias para abafar os lamentos
Se acorda, se vive, se come, se fode
Buenos dias y adiós.
Na cidade dos que querem se encontrar
Quem sabe em uma de suas esquinas densas e escuras?
Não se sabe o que se procura
Espera-se o acaso
Vão-se embora
Os que ficam é por ilusão
Porque na rua é férias
Todos são passageiros
Vêm e se vão.
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Monday, March 1, 2010
Little shell
Todos me diziam, "ah, deixe esse cara pra lá. Não tem futuro nenhum".
Talvez eles estivessem certos, mas o fato é que nenhum dos meus amigos dormiu com ele para saber como é difícil esquecê-lo. Não me refiro a sexo (que também é incrível), estou falando de pós-coito.
Aquele safado bem sabia fazer um cafuné e dormia abraçadinho a noite toda. Ou nossos corpos encaixavam muito bem ou ele era um especialista na arte da conchinha.
A maioria dos caras te abraçam por 2 minutos e depois já viram pro lado, de costas para você. Acho isso um absurdo, sabia? Pra dormir com alguém assim, prefiro o conforto da minha cama vazia.
Nada mais gostoso do que ser rapidamente acordada no meio da noite com ele buscando o encaixe do meu corpo. E a gente conseguiu encaixes anatômicos maravilhosos. Como diria o Caetano, "é só um jeito de corpo". E continuando com a música: "perigo é perder você, mas mesmo na deprê, chama-se um Gilberto Gil."
Que venha o Gilberto Gil!
Talvez eles estivessem certos, mas o fato é que nenhum dos meus amigos dormiu com ele para saber como é difícil esquecê-lo. Não me refiro a sexo (que também é incrível), estou falando de pós-coito.
Aquele safado bem sabia fazer um cafuné e dormia abraçadinho a noite toda. Ou nossos corpos encaixavam muito bem ou ele era um especialista na arte da conchinha.
A maioria dos caras te abraçam por 2 minutos e depois já viram pro lado, de costas para você. Acho isso um absurdo, sabia? Pra dormir com alguém assim, prefiro o conforto da minha cama vazia.
Nada mais gostoso do que ser rapidamente acordada no meio da noite com ele buscando o encaixe do meu corpo. E a gente conseguiu encaixes anatômicos maravilhosos. Como diria o Caetano, "é só um jeito de corpo". E continuando com a música: "perigo é perder você, mas mesmo na deprê, chama-se um Gilberto Gil."
Que venha o Gilberto Gil!
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Sunday, February 28, 2010
Sem paixão
Você me abraça como abraça o ar.
No seu beijo sinto todo o seu vazio.
Você não está lá quando estou.
No seu beijo sinto todo o seu vazio.
Você não está lá quando estou.
"A razão porque mando um sorriso"
Não é que eu pense o tempo todo em você. Não.
Sua lembrança chega como um vento frio no meu pescoço, me fazendo arrepiar até a ponta dos pés. Algo que que me leva a um sorriso de olhos e lábios fechados.
Penso em você sem tristeza. Já me conformei. Existem outras distâncias entre nós além da geográfica, que não sei se conseguiríamos encurtar. Para que tentar? Com você foi sempre imortalidade, final dos filmes de Honoré. Fim no susto e ausência de despedida.
Sua lembrança chega como um vento frio no meu pescoço, me fazendo arrepiar até a ponta dos pés. Algo que que me leva a um sorriso de olhos e lábios fechados.
Penso em você sem tristeza. Já me conformei. Existem outras distâncias entre nós além da geográfica, que não sei se conseguiríamos encurtar. Para que tentar? Com você foi sempre imortalidade, final dos filmes de Honoré. Fim no susto e ausência de despedida.
Tuesday, February 2, 2010
O hino do fim
Era noite e eu dirigia pra casa, mais tarde pegaria um ônibus pra São Paulo.
Nos ouvidos, contra a lei de trânsito, fones. Não tinha som no carro e tão pouco compraria.
Não me lembro bem quais músicas estavam tocando. Só de uma, que começava com um violãozinho e um teclado, uma estética bem mpb anos 80. Não fosse sua melodia linda, até poderia tê-la chamado de cafona. Já tinha ouvido aquela canção dezenas de vezes, mas nunca nem parei pra pensar no que o cantor falava.
Naquela noite, no meio do trânsito caótico e completando duas semanas de rompimento, pelo qual não havia derramado uma lágrima sequer, comecei a entender tudo. Tão automático como uma tradução simultânea. Foi aí que chorei. Ia entendendo e chorando.
Não. "Não mereço um beijo partido". E o verso libertador: "eu serei pra você o que não me importa saber". Desde então ouvi várias versões de Beijo partido, em português, inglês, instrumentais. Versões mais bonitas que a do compositor, como a da Nana Caymmi. Outras versões de términos nunca bonitas.
Beijo partido - Toninho Horta
Vale escutar com a Nana e com o Milton
Nos ouvidos, contra a lei de trânsito, fones. Não tinha som no carro e tão pouco compraria.
Não me lembro bem quais músicas estavam tocando. Só de uma, que começava com um violãozinho e um teclado, uma estética bem mpb anos 80. Não fosse sua melodia linda, até poderia tê-la chamado de cafona. Já tinha ouvido aquela canção dezenas de vezes, mas nunca nem parei pra pensar no que o cantor falava.
Naquela noite, no meio do trânsito caótico e completando duas semanas de rompimento, pelo qual não havia derramado uma lágrima sequer, comecei a entender tudo. Tão automático como uma tradução simultânea. Foi aí que chorei. Ia entendendo e chorando.
Não. "Não mereço um beijo partido". E o verso libertador: "eu serei pra você o que não me importa saber". Desde então ouvi várias versões de Beijo partido, em português, inglês, instrumentais. Versões mais bonitas que a do compositor, como a da Nana Caymmi. Outras versões de términos nunca bonitas.
Beijo partido - Toninho Horta
Vale escutar com a Nana e com o Milton
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Toninho Horta
Quem é?
Olho para as minhas unhas verdes e parece que elas não são minhas. A cor é bonita, gosto de vê-las digitando essas palavras no teclado. Mas não sou eu, o problema não são as unhas, o esmalte sai com acetona. É que não sou eu mesma.
Ontem e hoje não sou eu. É você refletindo a minha imagem naquele espelho que comprei no show de horrores e guardo em casa para os dias mais sombrios. Achei que você nunca fosse encontrar, ele estava bem escondido. Mas sempre chega o dia que eu tiro do esconderijo e o coloco na porta da minha casa: olha o meu espelho, ele me deforma! Parece loucura, mas essa sim sou eu.
Ontem e hoje não sou eu. É você refletindo a minha imagem naquele espelho que comprei no show de horrores e guardo em casa para os dias mais sombrios. Achei que você nunca fosse encontrar, ele estava bem escondido. Mas sempre chega o dia que eu tiro do esconderijo e o coloco na porta da minha casa: olha o meu espelho, ele me deforma! Parece loucura, mas essa sim sou eu.
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Silêncio para escutar
Tem dias que é melhor se calar. Vou deixar o Chet falar por mim.
Stella by starlight
Stella by starlight
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Thursday, January 7, 2010
Silogismos
Se se pudesse converter amor em energia, eu iluminava o mundo inteiro até o dia em que morresse, e se o Chico diz que amores serão sempre amáveis, meu amor continua no mundo depois que eu me for, em forma de ar condicionado.
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