Wednesday, June 18, 2008

Vou voltar

“ vou voltar... vou voltar...” não acredito que essa musica foi vaiada no festival da canção. Ela é tão linda... dizem que é porque ela não tinha enfoque político, e naquela época se você não tinha um discurso político era um alienado.

Tom Jobim. Ele é um dos meus maiores ídolos, não só por causa da sua música que pra mim é a mais linda do mundo, mas porque ele sabia o que queria e fez. Bem, deixe eu me apresentar. Meu nome é Carina, tenho 28 anos, ou quase trinta, como a minha mãe prefere. Trabalho como redatora em uma agência de publicidade. Odeio meu trabalho. Mas ainda não sei se odeio o trabalho de redatora ou se odeio trabalhar. Esse é um dos questionamentos mais profundos da minha vida.

Sou cheia dos sonhos inconcretos, de preguiça e confesso, sou alienada. Todos falam de Chavez , Farc, Fidel, Lula, Hilary e Obama. Me interesso mais por romances, filmes e o meu vício atual que são os seriados americanos de TV. Por mais que eu não goste dos EUA por ideologia, adoro suas piadinhas, seu modo de me hipnotizar na frente da tela e me manter beeeem longe do meu pensamento mais recorrente e mais aterrorizante: o que você vai fazer com a sua vida, Carina?

Todos dias acordo às 7:30h com a sensação que podia ficar na cama até às 19h, tomo banho, demoro pra escolher a roupa e vou pro trabalho. Lá, a primeira pessoa que vejo é a linda recepcionista com seu sorrisinho amarelo que estraga 50% da sua genética.

Subo as escadas pretas com paredes igualmente pretas e tenho que dar bom dia a um por um. Às vezes ando meio escondida para evitar o contato visual e físico a essa hora da manhã.

Sento no meu computador, abro meu gmail e o dia começa. Respondo alguns gatos pingados que me escrevem, coloco meu fone de ouvido e me isolo no meu mundo em que Tom Jobim iria ganhar o primeiro lugar por falar de amor e não de política.

Juro que tentei ser uma pessoa politizada, principalmente na época do vestibular quando meus professores diziam que conhecimentos gerais sempre caem nas provas de geografia. Tentei, como fiz com o Ballet, com o piano, o violão, o canto lírico, o curso de Direito, os serviços sociais, não consegui.

Achei que não poderia gastar meu precioso tempo fazendo isso, mas podia passar horas na frente de TV vendo seriados fracassados como Caroline in the city. Pelo menos nesses momento eu não estava me culpando por ter dado errado em quase tudo e de ser uma desistente. Não gosto dessa palavra desistente, parece uma ação contínua de desistir. Uma vez desistente sempre desistente. Porque não desistidora? Essa sou eu tentando achar uma dignidade em desistir.

Do que eu estava falando mesmo? Tenho um problema de foco e concentração. Toda vez que algo fica muito sério, eu mudo de assunto, ou de faculdade, ou profissão, ou instrumento.

Mas voltando à política. É claro que todo mundo tem a sua área de interesse principal com exceção desses malditos filósofos (usei maldito aqui de puro despeito) que parecem se interessar por tudo. Na verdade não vou falar nada sobre política, pra mim ela só tem interesse depois que vira história e romanceada de preferência. Aliás porque não se ensinam história em forma de romance nas escolas?

Acho que provei duas coisas no parágrafo anterior: a falta de foco e o amor pelo romance, pela narrativa, pela história estória. Posso passar tardes vendo filmes. Gosto dos mais idiotas aos mais sem-pé-nem-cabeça. Gosto de ouvir histórias, de ver como cada um tem um modo diferente de contar, gosto de histórias originais e de adaptações. Tanto na música quanto no cinema. Gosto de ver a genialidade de fazer uma obra aberta e da inteligência de outros para fazer uma obra completamente compreensível, sem lacunas. É a clareza versus a obscuridade. Todos têm a sua beleza. E tem gosto para tudo. E pessoas que tem muitos gostos como eu.

É, outra coisa sobre mim, sou muito critica e preconceituosa. Conversando com meu pai um dia, sobre eu ser uma pessoa preconceituosa ele foi muito delicado e me disse:
-“ que isso minha filha, você só tem um gosto mais apurado e não aceita certas coisas”. Gostei da definição dele. Vou passar a usá-la.

Parei pra ver uma revista ridícula sobre um shopping da minha cidade. Por alguns minutos me perco entre fotos de modas e mulheres de longos cabelos lisos e esqueço onde estou. 5 minutos depois a revista acabou e me dou de cara com o computador e esse texto aberto na minha frente. Vou continuar.

Por alguns momentos fico sem assunto. Penso sobre o que vou falar. Em primeiro vem o meu espírito auto-destrutivo e sopra ao meu ouvido:
- psiu, fala da sua timidez, conta que desde de pequena você é envergonhada. Depois vem o meu adormecido espírito construtivo:
- que isso, fala da sua habilidade com idiomas. Vou deixar o tópico timidez pra quando acabar o assunto. Sobre idiomas é verdade, sempre tive facilidade, falo inglês, japonês (mas não leio nem escrevo), espanhol e estou aprendendo francês. Gosto do transformar das palavras, adoro ver e conhecer essas diferenças e ficar pensando sobre isso.

Mais uma vez meu espírito auto-destrutivo me cutuca:
- conta que você tem uma irmã e que você se sente comparada a ela o tempo todo e que você se sente inferior a ela.
Infelizmente é verdade. Eu tinha 2 anos e 8 meses quando ela nasceu. Ela era a criança mais linda e fofa ao contrario da minha magreleza e esquisitice.
Gordinha, cabelos com cachos, não foi difícil pra minha mãe inventar seu apelido: Bela. A menina dengosa, carinhosa, sorridente e como se não bastasse, inteligentíssima. Sempre a número 1 da sala. Amada por colegas, professoras e família. A Carina, coitada, não tinha amigos era rejeitada, ficava sempre no canto calada, no pré-primário, a única pessoa que falava com ela era a professora Tia Suzana, as vezes a gorda da Carolina também falava, mas geralmente era um comentário que ofendia a Carina. Até aquela gorda insuportável!

Tudo que a Carina fazia bem a Bela ia e fazia melhor. Piano, canto, dança. Carina foi se apagando. Ela, digo, eu, só queria não ficar à sombra desse fantasma. Hoje eu moro com a Bela, e ela se tornou a minha irmã mais velha. É ela que entende de relacionamentos, é ela que é independente. Ela tem mil amigos

Agora chega a Fernanda, a tráfego da agência com mais um trabalho pra eu fazer, refazer, quero dizer. Um cartão de aniversário para captar um cliente para um banco. Como se isso fosse conquistar alguém. Ainda mais pra mudar de banco. Será que existe alguém tão carente nesse mundo que se sentiria tocado por um cartão de aniversário de um banco a ponto de mudar a conta. Quanto dinheiro em vão! Ok, não é meu dinheiro. É meu tempo, é meu esforço é meu saco.

Fiz o trabalho em 5 minutos, cortei palavras, coloquei outras novas. Fiz um trabalho porco como ele merece ser.

Desci, comi mais do que precisava pra alimentar a minha ansiedade.

Wednesday, June 11, 2008

Incomunicabilidade graças a Deus.

Tenho fome. Tenho sede. Sinto frio. Sinto calor.
Você está chateada? Não. Claro que estou.
Eu fiz algo com você? Lógico que fiz, transei a noite toda com você, disse que a queria como namorada, que te adorava e que há tempos não me divertia tanto, depois falo que tenho namorada.
Não, você não fez nada, mas cadê sua namorada? Lógico que fez! Cadê sua namorada?
Deixei ela em casa. Quero terminar com ela. Aliás vou terminar. Será que ela cai de novo nessa história? Ela está tão gostosa com essa roupa, foi tão boa aquela noite, tenho que comer essa menina de novo, ai, qual é o nome dela mesmo?
Ah tá bom, conta outra. Sai de perto de mim. Me beija.
Vem cá, vamos relembrar aqueles velhos momentos. Vamos trepar a noite toda de novo.
Ei! Você nem sabe meu nome. Vai procurar sua namorada. Te odeio, mas queria que você estivesse comigo.
Você tá tomando as dores da minha namorada? Gente, mas que louca!
Tô sim. Solidariedade feminina. Não, seu canalha. Tô tomando as minhas próprias dores, de ter sido ingênua de cair na sua conversa e idiota por não ter apenas aproveitado o momento.
Que isso, me beija, vem?
Não. Sai daqui. Volta, tenta mais que eu vou ceder.
E ele se foi.