Thursday, December 18, 2008

Abre aspas

Depois daquilo não sabia se ficava triste ou feliz. Em meio a sinfonia de telefones, cada um em um tom, cheguei atrasada para trabalhar. A culpa não é minha, é da chuva. Por mais que eu tente acordar cedo tá impossível. Fico na minha cama sentindo o cobertor quentinho no meu corpo, ajeito o travesseiro, mudo de posição, quero transformar mais dez minutos de sono em duas horas. Sonho. Nem o barulho da construção ao lado consegue me tirar daquele sonho bizarro em Paris.

Chego sem graça no trabalho, já eram quase onze horas, duas horas de atraso, mas se levar em consideração que eu trabalhei no feriado e no fim-de-semana, o que são duas horas? Acho que preciso ser mais cara de pau e mostrar nos meus gestos que conheço meus direitos. Tô muito longe de ser máquina. Demasiado humana.

Olhei para minha mesa e aquela confusão, todo mundo tentando fazer o meu trabalho, assumo meu posto e vejo as alterações que tenho que fazer, na sua maioria imbecilidades que meu chefe insiste em colocar para mostrar que sabe mais do que eu. Ele pode até saber umas coisinhas a mais de marketing direto, mas não fala japonês, não sabe quem foi Ted Curson, muito menos quem foi o Divino do Leite. Ele não entende que ninguém sabe mais que ninguém. Apenas sabemos coisas diferentes. Graças a Deus. Mas vamos deixá-lo brincar de todo poderoso. Algumas pessoas precisam disso.

Em um dos textos que ele pediu para que eu alterasse, estava escrito de caneta preta e letra nervosa: isso é citação? Colocar aspas. Citar o autor.
Ai que ótimo, colocar aspas no próprio texto que eu escrevi. Aliás eu deveria ter colocado. Abre aspas, fecha aspas. Carina Gonçalves. O imbecil não acreditou que o texto era meu, achou que eu copiei da internet e pior, tentou me ensinar o uso das aspas.

O texto estava tão bom que não poderia ser meu. Quanto descrédito. O texto não era meu mesmo, era do mundo, vinha das minhas referências, da minha vontade de entender o que se passa aqui, era um pouco de mim.

Engraçado. Foi eu escrever um pouco de mim que ele não acreditou que o texto era meu. Acho que não ando escrevendo sobre mim, acho que não tenho me colocado pra fora. E eu tenho tanto pra despejar…

Ultimamente tenho me achado medíocre no trabalho. Faço tudo rápido e sem vontade. Quero acabar logo com tudo para sobrar mais tempo para responder emails, ficar de papo com os amigos, e porque não, ver um filminho?

Algo tem que mudar. Ou eu me coloco pra fora, ou eu me coloco pra fora e fecha aspas.

Monday, November 17, 2008

Nadar faz bem

Joana foi até a janela do seu quarto e gritou: Eu desisto! Aquele gritou ecoou em toda vizinhança. Será que ela falava sério? Sua intenção era honesta, mas talvez tudo aquilo era mais forte do que ela. Joana sabia que vivia bem sem todas aquelas luzes coloridas, mas sempre que elas apareciam brilhando na sua frente ela nem pensava duas vezes em apanhá-las para enfeitar-se. Ficava tão impregnada de luz que se podia ver o brilho de quilômetros de distância. Ela não se preocupava em esconder.

Esconder o quê? De quem? Para quê? Esconde-esconde nunca foi seu forte, muito menos brincar de gato e rato. Ela não gostava dessas brincadeiras porque sabia como ninguém o que era o faz-de-conta e aquilo tudo era muito amador.

Agora ela ouve aquela música com a Billie Holiday cantando e entende cada palavra, cada suspiro e aquilo dói dentro dela. All of me. Dói mas é lindo. Ela está viva.

Wednesday, October 29, 2008

Linda quando lida

Quando a vida se transforma em palavras, ela fica mais bonita. O desconforto fica interessante, o louco parece apenas excêntrico. A tristeza queima em uma fogueira que mais parece fogos de artifício. Mas isso não seria o símbolo da alegria? Sim. Mas é esse o poder das palavras: transformar tudo em beleza. Até o sentimento mais horrível pode ser lindo quando lido.

Thursday, October 9, 2008

Qualquer coincidência é mera semelhança

Ontem, o Rafa, um grande amigo me mandou a letra de uma música da Marisa Monte, que é mais ou menos assim (he he)

carina, vc é fofa
ouvi uma musica que falava de vc
é essa:

Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lo do ângulo mais bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamente

Aprende e continua aprendiz
Ensina muito e reboca os maiores amigos
Faz dança, cozinha, se balança na rede
E adormece em frente à bela vista

Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda

Conhece a Índia e o Japão e a dança haitiana
Fala inglês e canta em inglês
Escreve diários, pinta lâmpadas, troca pneus
E lava os cabelos com shampoos diferentes

Faz amor e anda de bicicleta dentro de casa
E corre quando quer
Cozinha tudo, costura, já fez boneco de pano
E brinco para a orelha, bolsa de couro, namora e é amiga

Tem computador e rede, rede para dois
Gosta de eletrodomésticos, toca piano e violão
Procura o amor e quer ser mãe, tem lençóis e tem irmãs
Vai ao teatro, mas prefere cinema

Sabe espantar o tédio
Cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto, é infinita, sensível, linda
Estou com saudades e penso tanto em você

Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda

Tuesday, September 30, 2008

Sambinha do Single and Fabulous

Nem sempre Deus ajuda,
quem cedo madruga
é então na madrugada
que eu fico animada

Quem gosta de rua
sabe o que eu tô falando
então me deixa
ficar na cama enrolando

Não tenho amor que me queira
mas não me preocupo com isso
porque o samba e a cerveja
são o meu compromisso

Eu não sou vagabunda,
não sou não senhor
só porque o que eu mais quero
é ficar no cobertor

Vê se me esquece,
que um dia eu me arranjo
você quer ver como vai longe
essa minha cara de anjo

Trabalho o dia inteiro
pensando logo na noite
junto cada centavo
só pra entrar numa boite

Você ainda pergunta
onde é que eu vou chegar
não vou te dar satisfação
mas te encontro lá

Wednesday, September 17, 2008

Bemol e sustenido

Olívia chegou em casa cansada das compras e do dia pesado de trabalho. Apenas tirou as sacolas do carro e deixou-as na cozinha. Não estava com saco para guardar tudo naquela hora. Esparramou-se na poltrona e ficou parada por uns 3 minutos olhando fixamente para o piano. Imóvel, quase catatônica, não tinha forças para se levantar, queria ficar nessa posição confortável para sempre.

Moveu um pouco a cabeça e como sempre fazia, tentou buscar uma explicação para seu desânimo. Olhar para o piano a transportava para a sua infância, quando tinha aulas com a Tia Marilene. Desde essa época, Olívia se mostrava desconcentrada do real e concentrada em seu mundo. Tocava aquelas teclas desordenadamente, achava que estava compondo. Sua cabeça flutuava em um grande concerto em que ela era a grande pianista e compositora, ouvia aplausos. Mas logo uma voz a acordava e ela saía do grande teatro para voltar à sala de piano da sua professora.

- Olívia, pára de brincar, você vai desafinar meu piano.
Resignada ela voltava para o Béla Bartók e assim ficava até dar a hora de voltar pra casa.

Decepcionada. É assim que se sente. Mais uma vez a expulsaram do grande teatro da sua imaginação. Mas com quem ela está decepcionada? Com o porteiro do teatro que fingiu não reconhecê-la, ou por acreditar que poderia estar naquele palco?

Promessas. Promessas suas. Promessas deles. Uma vez ela leu que a promessa era eterna porque ela nunca se realizava, depois que se realiza deixa de ser promessa. E enquanto não se realiza existe a esperança de que ainda vai acontecer.

E essa promessa ficou promessa, como todas as outras que já escutou até hoje. Como uma criança que morre e sempre permanecerá criança para quem a conheceu.

O que fazer? Levantar do sofá como sempre, arrumar aquela força que vem das notas musicais. Olívia sabe que é feita de música, agora ela precisa de um cresciendo. E o resto fica para trás, não foi música, foi barulho.

Thursday, August 7, 2008

I don't know


Mal ele começou a falar e eu já me identifiquei. Suas primeiras palavras foram I don’t know. Só alguém muito sábio poderia responder aquela pergunta cabeluda com essas simples 3 palavras. Gostei de ver aquele monstro do cinema sorrindo e confessando que não sabe tudo.
Minha identificação não foi com a sabedoria dele, estou longe de ser sábia. Foi uma sensação confortante que ele passou. É normal não saber tudo. É normal ser você mesmo. É normal falar I don’t know. E eu falo I don’t know para muita coisa. E às vezes me dói dizer essas palavras. Queria saber mais. Mas depois que o David Lynch falou que não sabe, conti a minha ansiedade e consegui me dimensionar no espaço e tempo. Não saber é chegar mais perto da nossa essência, que é tão simples que passa despercebida pelos nossos olhinhos caçadores de complicação.
Ele falou outra coisa que gostei: “eu odeio trabalhar, apenas gosto de transformar minhas idéias em realidade”. Que eufemismo maravilhoso para trabalho, não? Nas nossas idéias estão embutidos nossos desejos e pricipalmente nossos sonhos. Que maravilha seria trabalhar com a realização dos sonhos. Por mais difícil que pareça isso é possível, afinal ele consegue. Tudo bem que estamos falando de David Lynch, ele até faz parecer fácil, mas não é. Pelo que consegui extrair da palestra tudo depende do nosso interior, da nossa relação eu-mundo, da tranquilidade que traz o auto-conhecimento. Quando sabemos quais são nossos limites, nada mais pode nos limitar.
Isso pode parecer texto de auto-ajuda, interprete como quiser. Não ligo. Só tive vontade de me expressar. Lynch chamaria este desejo de expressar de idéia. E para ele as idéias estão no ar como bolhas de sabão, mas elas são frágeis, podem estourar a qualquer momento. Você precisa aprender a pegá-las, fisgar o peixe grande. Não deixe sua idéia passar, aproveite o momento que ela surge, seja fiel a ela e faça acontecer.
Aí que entra a intuição. Para o mestre (já virou mestre, meu guru), existe a inteligência e a emoção e no meio e acima delas existe a intuição, que é o equilíbrio. É o inexplicável, é a nossa voz interior falando. A voz existe, mas quase nunca ouvimos e por isso desistimos de nossos desejos, abandonamos nossas idéias, sofremos, deprimimos, estressamos.
Como ouvir essa voz? I fucking don’t know. Temos que tentar, temos que nos preencher. Preencher a alma com a beleza. Ontem tomei um banho de beleza na sua palestra. A cada 5 minutos ele falava no seu inglês gostoso de escutar: “It’s beautiful”, podia-se ouvir a paixão na sua voz. Certamente a voz interior é apaixonada.
Às vezes me falha um pouco a memória para lembrar de tudo que foi falado, queria ter tudo gravado para ouvir toda vez que me desanimasse. De qualquer jeito, ele conseguiu me tocar, o resto vou lembrar, tenho certeza que essas frágeis bolhas de sabão vão aparecer na minha frente e não vou deixá-las estourar.

Wednesday, July 9, 2008

Sem mais nem menos

Nicole enoja de tudo. As vezes até de si mesmo. Ela se cansa de olhar para seus cabelos, suas roupas, e ouvir seus pensamentos repetitivos que parecem nunca chegar a lugar nenhum.
Quando Nicole se cansa, ela não dorme nem descansa, ela se agita, fica impaciente. Escrevendo seus pensamentos repetitivos ela descobriu que enjoar é cair num buraco negro sufocante e lá não tem nada, nem música, nem pessoa, nem coisa. Pra sair da cratera que abre sem mais nem menos embaixo dos seus pés ela tem que respirar fundo e ter contato com algo novo, um som, um cheiro, uma cor, assim seu buraco cria vida e ela consegue viver lá sossegada por algum tempo até que sem mais nem menos...

Será que o buraco cria vida? Porque não sair do buraco? Morar nele é disfarçar seu vazio com belíssimos artigos de decoração que só servem pra enfeitar, mas não duram. O problema de viver nesse lindo buraco decorado é que outros buracos se abrem aos pés dela, e cada vez mais fundo se chega. Até o centro da Terra, no magma, onde é insuportável viver.

Nicole não precisa de decoração, precisa de arquitetura, de engenharia, de uma obra concreta que a tire do buraco e a coloque em um lugar mais alto que a superfície pra não correr o risco de cair pra debaixo da terra de novo.

Wednesday, July 2, 2008

Lírico, mas não romântico

Esqueça a Torre Eiffel iluminada pelo céu azul de Paris. As únicas coisas azuis no filme são os olhos, a coloração da imagem e a música. Christophe Honorré sempre mostra essa Paris cinza, fria, real. Como fazer um filme de amor em Paris sem ser romântico, e ainda com o título: Canções de Amor? Honorré conseguiu. Parece irônico que um filme tão realista seja um musical. Mas não é ironia, é honestidade, c'est la vie. E a vida é isso: surpresas, rotinas, surpresas, trabalho, alegrias, sofrimentos, surpresas, morte, fundo-do-poço, fome, frio, calor, volta por cima. A vida e o amor não têm nada a ver com as histórias que vemos no cinema desde pequenos, com o seu belo final feliz, têm muito menos a ver com canções que dizem "eu sei que vou te amar por toda a minha vida". Mas não poderia nunca dizer que as Canções de Amor são falsas. Elas são verdadeiras para algumas pessoas, por algum tempo. Outro dia me peguei ouvindo um CD do cantor cubano Bola de Nieve, suas canções são o cúmulo das promessas apaixonadas e do sofrimento de não poder ter quem se ama. Apenas as ouvi como uma bela melodia e voz, mas as palavras não me tocaram. Talvez estivesse eu apaixonada ou de coração partido essas palavras ecoassem dentro de mim. Voltando ao filme, mais uma vez Honorré me encanta com a sua ambigüidade. Cada canção é tão lírica, tão profunda, o que me faz ver que a realidade é poética, "a vida é um mistério" como um das personagens do filme diz. E como é um mistério! Todos os dias recebemos desafios que quase julgamos impossíveis de enfrentar e quando menos percebemos já estamos numa situação completamente diferente da anterior, quem imaginaria. Gostaria de me aprofundar na história, mas tenho medo de estragar a surpresa de quem ainda não assistiu ao filme. Mas já adianto que o fim do filme é como uma morte, algo que sabemos que vai chegar, mas não sabemos quando.

Les chansons d'amour
Christophe Honoré

Wednesday, June 18, 2008

Vou voltar

“ vou voltar... vou voltar...” não acredito que essa musica foi vaiada no festival da canção. Ela é tão linda... dizem que é porque ela não tinha enfoque político, e naquela época se você não tinha um discurso político era um alienado.

Tom Jobim. Ele é um dos meus maiores ídolos, não só por causa da sua música que pra mim é a mais linda do mundo, mas porque ele sabia o que queria e fez. Bem, deixe eu me apresentar. Meu nome é Carina, tenho 28 anos, ou quase trinta, como a minha mãe prefere. Trabalho como redatora em uma agência de publicidade. Odeio meu trabalho. Mas ainda não sei se odeio o trabalho de redatora ou se odeio trabalhar. Esse é um dos questionamentos mais profundos da minha vida.

Sou cheia dos sonhos inconcretos, de preguiça e confesso, sou alienada. Todos falam de Chavez , Farc, Fidel, Lula, Hilary e Obama. Me interesso mais por romances, filmes e o meu vício atual que são os seriados americanos de TV. Por mais que eu não goste dos EUA por ideologia, adoro suas piadinhas, seu modo de me hipnotizar na frente da tela e me manter beeeem longe do meu pensamento mais recorrente e mais aterrorizante: o que você vai fazer com a sua vida, Carina?

Todos dias acordo às 7:30h com a sensação que podia ficar na cama até às 19h, tomo banho, demoro pra escolher a roupa e vou pro trabalho. Lá, a primeira pessoa que vejo é a linda recepcionista com seu sorrisinho amarelo que estraga 50% da sua genética.

Subo as escadas pretas com paredes igualmente pretas e tenho que dar bom dia a um por um. Às vezes ando meio escondida para evitar o contato visual e físico a essa hora da manhã.

Sento no meu computador, abro meu gmail e o dia começa. Respondo alguns gatos pingados que me escrevem, coloco meu fone de ouvido e me isolo no meu mundo em que Tom Jobim iria ganhar o primeiro lugar por falar de amor e não de política.

Juro que tentei ser uma pessoa politizada, principalmente na época do vestibular quando meus professores diziam que conhecimentos gerais sempre caem nas provas de geografia. Tentei, como fiz com o Ballet, com o piano, o violão, o canto lírico, o curso de Direito, os serviços sociais, não consegui.

Achei que não poderia gastar meu precioso tempo fazendo isso, mas podia passar horas na frente de TV vendo seriados fracassados como Caroline in the city. Pelo menos nesses momento eu não estava me culpando por ter dado errado em quase tudo e de ser uma desistente. Não gosto dessa palavra desistente, parece uma ação contínua de desistir. Uma vez desistente sempre desistente. Porque não desistidora? Essa sou eu tentando achar uma dignidade em desistir.

Do que eu estava falando mesmo? Tenho um problema de foco e concentração. Toda vez que algo fica muito sério, eu mudo de assunto, ou de faculdade, ou profissão, ou instrumento.

Mas voltando à política. É claro que todo mundo tem a sua área de interesse principal com exceção desses malditos filósofos (usei maldito aqui de puro despeito) que parecem se interessar por tudo. Na verdade não vou falar nada sobre política, pra mim ela só tem interesse depois que vira história e romanceada de preferência. Aliás porque não se ensinam história em forma de romance nas escolas?

Acho que provei duas coisas no parágrafo anterior: a falta de foco e o amor pelo romance, pela narrativa, pela história estória. Posso passar tardes vendo filmes. Gosto dos mais idiotas aos mais sem-pé-nem-cabeça. Gosto de ouvir histórias, de ver como cada um tem um modo diferente de contar, gosto de histórias originais e de adaptações. Tanto na música quanto no cinema. Gosto de ver a genialidade de fazer uma obra aberta e da inteligência de outros para fazer uma obra completamente compreensível, sem lacunas. É a clareza versus a obscuridade. Todos têm a sua beleza. E tem gosto para tudo. E pessoas que tem muitos gostos como eu.

É, outra coisa sobre mim, sou muito critica e preconceituosa. Conversando com meu pai um dia, sobre eu ser uma pessoa preconceituosa ele foi muito delicado e me disse:
-“ que isso minha filha, você só tem um gosto mais apurado e não aceita certas coisas”. Gostei da definição dele. Vou passar a usá-la.

Parei pra ver uma revista ridícula sobre um shopping da minha cidade. Por alguns minutos me perco entre fotos de modas e mulheres de longos cabelos lisos e esqueço onde estou. 5 minutos depois a revista acabou e me dou de cara com o computador e esse texto aberto na minha frente. Vou continuar.

Por alguns momentos fico sem assunto. Penso sobre o que vou falar. Em primeiro vem o meu espírito auto-destrutivo e sopra ao meu ouvido:
- psiu, fala da sua timidez, conta que desde de pequena você é envergonhada. Depois vem o meu adormecido espírito construtivo:
- que isso, fala da sua habilidade com idiomas. Vou deixar o tópico timidez pra quando acabar o assunto. Sobre idiomas é verdade, sempre tive facilidade, falo inglês, japonês (mas não leio nem escrevo), espanhol e estou aprendendo francês. Gosto do transformar das palavras, adoro ver e conhecer essas diferenças e ficar pensando sobre isso.

Mais uma vez meu espírito auto-destrutivo me cutuca:
- conta que você tem uma irmã e que você se sente comparada a ela o tempo todo e que você se sente inferior a ela.
Infelizmente é verdade. Eu tinha 2 anos e 8 meses quando ela nasceu. Ela era a criança mais linda e fofa ao contrario da minha magreleza e esquisitice.
Gordinha, cabelos com cachos, não foi difícil pra minha mãe inventar seu apelido: Bela. A menina dengosa, carinhosa, sorridente e como se não bastasse, inteligentíssima. Sempre a número 1 da sala. Amada por colegas, professoras e família. A Carina, coitada, não tinha amigos era rejeitada, ficava sempre no canto calada, no pré-primário, a única pessoa que falava com ela era a professora Tia Suzana, as vezes a gorda da Carolina também falava, mas geralmente era um comentário que ofendia a Carina. Até aquela gorda insuportável!

Tudo que a Carina fazia bem a Bela ia e fazia melhor. Piano, canto, dança. Carina foi se apagando. Ela, digo, eu, só queria não ficar à sombra desse fantasma. Hoje eu moro com a Bela, e ela se tornou a minha irmã mais velha. É ela que entende de relacionamentos, é ela que é independente. Ela tem mil amigos

Agora chega a Fernanda, a tráfego da agência com mais um trabalho pra eu fazer, refazer, quero dizer. Um cartão de aniversário para captar um cliente para um banco. Como se isso fosse conquistar alguém. Ainda mais pra mudar de banco. Será que existe alguém tão carente nesse mundo que se sentiria tocado por um cartão de aniversário de um banco a ponto de mudar a conta. Quanto dinheiro em vão! Ok, não é meu dinheiro. É meu tempo, é meu esforço é meu saco.

Fiz o trabalho em 5 minutos, cortei palavras, coloquei outras novas. Fiz um trabalho porco como ele merece ser.

Desci, comi mais do que precisava pra alimentar a minha ansiedade.

Wednesday, June 11, 2008

Incomunicabilidade graças a Deus.

Tenho fome. Tenho sede. Sinto frio. Sinto calor.
Você está chateada? Não. Claro que estou.
Eu fiz algo com você? Lógico que fiz, transei a noite toda com você, disse que a queria como namorada, que te adorava e que há tempos não me divertia tanto, depois falo que tenho namorada.
Não, você não fez nada, mas cadê sua namorada? Lógico que fez! Cadê sua namorada?
Deixei ela em casa. Quero terminar com ela. Aliás vou terminar. Será que ela cai de novo nessa história? Ela está tão gostosa com essa roupa, foi tão boa aquela noite, tenho que comer essa menina de novo, ai, qual é o nome dela mesmo?
Ah tá bom, conta outra. Sai de perto de mim. Me beija.
Vem cá, vamos relembrar aqueles velhos momentos. Vamos trepar a noite toda de novo.
Ei! Você nem sabe meu nome. Vai procurar sua namorada. Te odeio, mas queria que você estivesse comigo.
Você tá tomando as dores da minha namorada? Gente, mas que louca!
Tô sim. Solidariedade feminina. Não, seu canalha. Tô tomando as minhas próprias dores, de ter sido ingênua de cair na sua conversa e idiota por não ter apenas aproveitado o momento.
Que isso, me beija, vem?
Não. Sai daqui. Volta, tenta mais que eu vou ceder.
E ele se foi.

Monday, May 26, 2008

De que vale um brinco?

Ela andava preocupada tentando disfarçar suas frustrações consigo e com os outros. Por mais que fingisse não importar, toda hora aqueles pensamentos vinham a tona. Às vezes se pegava obcecada em entender tudo que se passava e claro, tentava se justificar. Repetia tudo para todos e para si mesma toda hora.
Buscava nos livros, nos filmes, nas músicas. Queria respostas. Mas ela já as conhecia. Era duro, mas tentava se enganar. Já estava acostumada a colocar uma capa de romantismo em tudo na sua vida.
Essa capa era turva, embaçava a realidade, deixava-a mais bonita. Ela poderia viver assim para sempre se não houvesse mais ninguém no mundo, ou se todos pudessem sentir as coisas maravilhosas que ela sentia. Mas não, quem quer sentir hoje em dia? Querem apenas possuir. Pessoas e coisas.
E um dia chega a morte, que anula tudo e diminui toda a importância que ela dá as coisas. Estranhamente a morte vem acompanhada de vida e afasta todos pensamentos que podem acabar com ela aos poucos.

Tuesday, March 11, 2008

Cansada

Acordo de madrugada sem saber o que fazer, é como se eu não tivesse ação nenhuma e um vazio imenso fosse me engolir, encolho meu corpo, entro para debaixo do cobertor e tento em vão buscar o conforto da cama quente e macia. Não adianta, minha cabeça está deitada em pedras pontiagudas. Tenho que esperar o dia, o barulho, pra não ouvir o que diz minha mente.

De dia é tudo fingimento, mas não tem ilusão. Vejo tudo acontecendo com lucidez e isso não me agrada. Preferiria não saber nada, fechar os olhos e balançar a cabeça. Por que algo quer tanto sair de dentro de mim?

E não há ninguém pra me consolar. Consigo ficar perto de onde eu vim, do meu óvulo progenitor, fora isso nada faz sentido. Não sou eu. Não quero falar de mim, quero apenas me justificar por alguma coisa. Me justifico por tudo. Ultimamente tenho pedido desculpas por ser humana.