Wednesday, July 2, 2008

Lírico, mas não romântico

Esqueça a Torre Eiffel iluminada pelo céu azul de Paris. As únicas coisas azuis no filme são os olhos, a coloração da imagem e a música. Christophe Honorré sempre mostra essa Paris cinza, fria, real. Como fazer um filme de amor em Paris sem ser romântico, e ainda com o título: Canções de Amor? Honorré conseguiu. Parece irônico que um filme tão realista seja um musical. Mas não é ironia, é honestidade, c'est la vie. E a vida é isso: surpresas, rotinas, surpresas, trabalho, alegrias, sofrimentos, surpresas, morte, fundo-do-poço, fome, frio, calor, volta por cima. A vida e o amor não têm nada a ver com as histórias que vemos no cinema desde pequenos, com o seu belo final feliz, têm muito menos a ver com canções que dizem "eu sei que vou te amar por toda a minha vida". Mas não poderia nunca dizer que as Canções de Amor são falsas. Elas são verdadeiras para algumas pessoas, por algum tempo. Outro dia me peguei ouvindo um CD do cantor cubano Bola de Nieve, suas canções são o cúmulo das promessas apaixonadas e do sofrimento de não poder ter quem se ama. Apenas as ouvi como uma bela melodia e voz, mas as palavras não me tocaram. Talvez estivesse eu apaixonada ou de coração partido essas palavras ecoassem dentro de mim. Voltando ao filme, mais uma vez Honorré me encanta com a sua ambigüidade. Cada canção é tão lírica, tão profunda, o que me faz ver que a realidade é poética, "a vida é um mistério" como um das personagens do filme diz. E como é um mistério! Todos os dias recebemos desafios que quase julgamos impossíveis de enfrentar e quando menos percebemos já estamos numa situação completamente diferente da anterior, quem imaginaria. Gostaria de me aprofundar na história, mas tenho medo de estragar a surpresa de quem ainda não assistiu ao filme. Mas já adianto que o fim do filme é como uma morte, algo que sabemos que vai chegar, mas não sabemos quando.

Les chansons d'amour
Christophe Honoré

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