Friday, November 30, 2007

Maio, o frio e os presentes

(mais um de maio deste ano. êta mês bom pra escrever. acho que o frio faz refletir)


Eu pensei que ele nunca chegaria, enfim, assim sem falar nada, chegou nessa madrugada de maio. Ele. O frio, o anúncio do inverno. Me pegou de surpresa, acho que ele não sabia das minhas aulas de natação. Mas tudo bem, não foi tão ruim assim. Ele ficou na dele e nem me incomodou.

Como ele nunca vem sozinho, trouxe aquele azul que eu gosto tanto. Que dia diferente, pensei. Quando maio começa, sinto que uma porta é aberta, não sei se é porque é o mês que eu faço aniversário, ou é só a mudança do tempo que me traz algo novo. Mas hoje com certeza tem algo novo. Começo o dia ouvindo um lindo CD do Baden com o Grappelli, a melhor trilha para esse dia maravilhoso.

Sabe aquela sensação de intimidade que podemos ter com objetos, músicas, lugares, pessoas. Por exemplo, quando alguém fala para você: “Ei, ouvi um disco foda de um cara argentino, de tango...” – No meio da fala do seu amigo, você já sabe que ele vai falar Piazzolla e sente com um arzinho de superioridade, como se você e o Astor, já fossem íntimos de longa data. Sabe essa sensação? É isso que eu sinto com o frio, é como se eu o conhecesse mais e melhor do que todos. Como se ele me pertencesse. Ei, o frio é meu.

Tudo isso me leva para longe, para 10 anos atrás. Outono, Ohta-ku, Tóquio, discman, sagamichi, uniforme, cabelos úmidos, azul, muito azul, felicidade que vem de lugar nenhum, sem saber porque, metrô, meus 18 anos.

Voltando ao presente, uma vez ouvi dizer que sou uma pessoa de decisão. Vivo confusa, indecisa, as vezes até medrosa e quando tomo atitudes, acho que são de supetão, mas ao longo desses anos, vi que foram as melhores decisões e nem se elas fossem milimetricamente calculadas dariam tão certo.

Outro dia abri uma portinha do meu passado, mais por curiosidade do que por saudade. A princípio, me pareceu interessante ver como a vida caminhava por lá, as direções que tinha tomado. Aquela vida independente que corria sem mim. Depois de um tempo percebi que aquilo não fazia mais parte da minha vida. A caixa de Pandora tinha que ser fechada rapidamente, antes que espalhasse todo o mal novamente. Foi fechada e selada. Endereçada ao desavisado que queira abrir.

Desavisado é a palavra. Quando uma caixa chega até você, qual a primeira coisa que você pensa? 3 chances para advinhar. Já falou presente de cara, não é? Imaginei... Presente, com laços, embrulho bonito. Depois de aberta, não era aquilo que você tinha imaginado. A caixa está vazia. Não tem nada lá. E o nada te preenche com tudo que há de desagradável no mundo. Fica difícil tirar tudo isso de você depois, porque é como uma fumaça que te impregna todo.

Mas você pode fechar a caixinha. Tantas vezes quiser. Depois de um tempo você passa a receber caixas com laços dourados e já joga no lixo sem nem mesmo abrir.

Mas era do frio que eu estava falando, né? Pois bem. O dia está lindo, as caixas estão fechadas e o presente está aí.

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